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A mostrar mensagens de julho, 2012

III Ehunmilak 2012 - Epílogo

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As armas e os barões assinalados “As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia Lusitana, Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;”         - Lusíadas, Canto I. Só vários dias mais tarde é que viria a saber que o resultado oficial da minha prova tinha sido 39:42:47, e que tinha ficado classificado em 55º lugar num total de 112 finalistas. Dos 187 atletas que alinharam à partida, 75 tiveram que desistir por variadas circunstâncias. A minha sentida homenagem para todos esses valorosos atletas que empreenderam “em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana” Terminada a prova fui tomar o banho retemperador no polidesportivo de Beasain, seguido de uma nova refeição de massa e queijo derretido (é este o sinal concludente de que devo ser mesmo masoquista) que ficou quase tod

III Ehunmilak 2012 - 3ª parte

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Aizkorri de dia - Foto de José Morgado Etxegarate (130 km , 663 m): este é o 2º grande abastecimento, onde tem início a 3ª parte da corrida. Desta vez não hesito e peço uma refeição quente com massa e queijo derretido. É a minha primeira refeição quente das últimas 27 horas!!! Já a mereço, repito enfaticamente para o meu estômago rebelde. Então afinal quem é que manda aqui, ora essa! E o estômago lá anui, rendido aos meus argumentos. Não me esqueço de atestar a mochila de hidratação. Entrementes o Luís foi à tenda da cruz vermelha tratar dos pés e quando regressa está muito mais satisfeito com o tratamento que lhe deram. Desta vez, para além de lhe hidratarem a sola, colocaram-lhe uma ligadura que o protejerá mais eficazmente (na medida do possível) daqui por diante. É a minha vez de ir à Cruz Vermelha pois também me surgiram algumas bolhas nos pés (todo este tempo imersos em água e barro, não lhes deve ter feito muito bem). Hidratam-me os pés com uma mistura de vaselina e cre

III Ehunmilak 2012 - 2ª parte

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Início da descida para Azpeitia (é assim de dia, mas de noite e com chuva...) De Gorla (29 km) até Madarixa passamos pelo Elosua (686 m) e pelo Azkarate (665 m). Os quilómetros vão-se cumprindo e alcanço Madarixa, aos 43 km com 6h52 de prova. Um quarto do caminho está feito (em termos de distância mas não de desnível, que é o que conta verdadeiramente). Se fosse para mim humanamente possível manter esse ritmo, acabaria a prova em apenas 28 horas! Em Madarixa reencontro o Luís e daí partimos para o abastecimento seguinte, em Azpeitia. Os primeiros 6 km não têm história de relevo, mas a partir daí tem início a famigerada descida para Azpeitia: um puro calvário de 4 kms em que descemos mais de 800 metros, do Xoxote (912 m) para Azpeitia (80 m), maioritariamente em equilibrio preclitante sobre uma calçada tipo medieval, com lajes de pedra, molhadíssimas e escorregadias como o diabo! Este troço deve ter sido desenhado pelo próprio Torquemada da Santa Inquisição! Apesar de o fazer a a

III Ehunmilak 2012 - 1ª parte

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Recinto da partida O 5º e último mesociclo de preparação para o Ehunmilak teve início a 18 de Junho e terminou com a realização da prova (vide preâmbulo ). Neste último período, por indicação do meu treinador, Eduardo Santos, baixei drasticamente o volume de treino, por forma a chegar descansado a Beasain, no País Basco. Confesso que não foi fácil abrandar. Nunca o é, antes de uma prova importante. Para além disso, desde a Ultra de São Mamede (105 km) que não competia em nenhuma prova, o que me deixa sempre um pouco agitado. Tenho necessidade de descarregar a adrenalina.  Por outro lado, e contraditoriamente, já me sentia algo fatigado pelo inusitado volume de treino. Questionava-me: será que treinei de mais, será que treinei de menos? Deveria ter feito algo de forma diferente? Nestas circunstâncias só há uma coisa a fazer: ter confiança no treinador. Até aqui nunca me tinha dado mal. Aliás, a questão inicial passa logo pelo objectivo a estabelecer: será demasiado ambicios

III Ehunmilak 2012 - Preâmbulo

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Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente, Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas E toda a realidade é um excesso, uma violência, Uma alucinação extraordinariamente nítida Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. -    Álvaro de Campos Perfil Altimétrico Percurso O Ehunmilak (vide o meu post anterior ) é uma prova pedestre de montanha, com 168 km de comprimento e 22000 metros de desnível acumulado (11 mil a subir + 11 mil a descer), que passa pelos picos montanhosos mais significativos da província de Guipúzcoa, na comunidade autónoma do País Basco. A sua personalidade própria deve-se principalmente aos seguintes factores: a enorme beleza da envolvente paisagística; a feroz inclinação ascendente e descendente dos seus trilhos, que incluem troços de vários quilómet