XXVIII Maratón Ciudad de Sevilla

Summary Depois do almoço fomos ver se já havia novidades. Nada! Já havia sido contactada a organização da prova, os hospitais, a polícia e ninguém sabia de na
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Às 5h30 de uma madrugada bem fresca, um Taxi amarelo deixou-me  debaixo do viaduto do Campo Grande. Dei uma voltinha por ali, tentando localizar o ponto onde o autocarro fretado pela colectividade desportiva “A Real Academia” me apanharia para dar início à longa viagem até Sevilha. Às 5h40 liguei para o meu amigo Carlos Silva, que já se encontrava em frente às roullotes, e juntei-me a ele. Com ele encontravam-se mais alguns atletas que também se preparavam para encetar a viagem até ao local da Maratona. Ali estivémos em amena cavaqueira durante algum tempo e começámos a estranhar a camioneta nunca mais aparecer, visto que a hora combinada para nos encontrarmos ali eram as 5h45. Como o autocarro vinha de Mem Martins, fomos supondo que alguem se teria atrasado e como estavamos na companhia de outros atletas, pareceu-nos que havia que aguardar com paciência. Por volta das 6h15 surgiu enfim um autocarro e nós corremos a acercarmo-nos dele. No entanto, já depois de estarmos confortavelmente sentados lá dentro (!), descobrimos que se tratava do autocarro de “O Mundo da Corrida” e não aquele que tão ansiosamente aguardávamos!



Liguei para o nosso companheiro do Run 4 Fun, o Renato Velez, que se encontrava em Setúbal, o local seguinte de paragem. O autocarro já lá se encontrava, pois aparentemente tinha passado pelo Campo Grande cerca das 5h35 e ninguém verificou se nós teriamos embarcado. Felizmente o Renato falou com a organização que se prontificou a esperar por nós enquanto o Carlos conduzia velozmente o seu automóvel até Setubal (ressalvo que a organização se portou sempre impecávelmente connosco).

E foi assim que começou, com um equivoco digno de um filme cómico, uma animada, divertida e cheia de peripécias, viagem até Sevilha.

O autocarro ia cheio com muitas das simpáticas habituais presenças nestes eventos, animados como sempre.

Chegámos cerca das 14h30 locais e fomos logo levantar os dorsais ao estádio olimpico. Depois fomos almoçar as massas do costume e fizemos o check-in no Hotel.  Eu e o grupinho de Setúbal ocupámos dois quartos duplos: eu, o Gonçalo e o Vítor num, e o Renato, o Rui e o Hélder noutro. Posso-vos dizer que foi uma tarde muito animada, na galhofa com esta malta divertida.

Para o jantar, em lugar de massa com molho, resolvi variar e comer molho com massa. Deitei-me cedo e cedo adormeci, pois não sofro da “angústia do guarda-redes antes do penalti.”

A meio da noite mais uma peripécia: tive que me levantar e, que ideia peregrina!, para não acordar os companheiros resolvi não acender a luz e usar o telemóvel como lanterna. Assim que entro na casa de banho, o telemóvel, como que movido por vontade própria, escapa-se-me das mãos e zás, com infalível pontaria, acerta em cheio na sanita.

Mas mais vale passar um véu sobre este acontecimento desagradável e basta dizer que era o único despertador que eu possuia comigo e assim fiquei dependente da wake-up call da recepção, que felizmente não falhou, pontualmente às 7h30 locais.

O resto da malta já tinha partido no autocarro para o estádio, mas nós os 6, mais o Gustavo, tínhamos combinado apanhar um taxi para não sermos obrigados a acordar às 6h da madrugada. Foi uma boa estratégia pois às 8h45 já lá estávamos, no estádio, equipados e prontos para deixar os sacos com a muda de roupa. Estava uma manhã fresca, mas solarenga e que ameaçava aquecer.


Às 9h30 tinha conseguido um lugar excelente, na linha da partida, mesmo atrás do balão das 3h00. Às 9h31 é dado o “tiro de partida” e arrancamos à desfilada por ali fora, espicaçados pelo medo de sermos atropelados no túnel de saída do estádio.

É agora o momento de fazer um flashback para o início de Janeiro. Em Janeiro inscrevi-me no Centro de Treino de “O Mundo da Corrida” no Jamor, com o intuíto de ter um acompanhamento mais profissional e um plano de treinos estruturado.  As primeiras 4 semanas foram passadas a preparar o II Ultra-Trilhos dos Abutres, e sobrou pouco tempo para preparar a Maratona de Sevilha. No entanto os treinos de séries e de força, foram sem dúvida importantes para melhorar a minha capacidade física.

O meu objectivo expresso para esta corrida situava-se nas 2h55, o que constituiria uma melhoria de alguns minutos em relação ao resultado alcançado em Dezembro na Maratona de Lisboa (2:57’58’’).

Fim de flashback. Saí do estádio no encalço do balão, que já era seguido por um grupo muito numeroso. Pouco depois juntou-se a mim o Carlos, correndo descontraído, apesar da lesão contraída recentemente no joelho. Dois ou três quilómetros depois passa por nós o Eduardo Santos, em grande ritmo. Seguimos o balão durante os primeiros 11 kms, pois prosseguia a um ritmo de cerca de 4’07’’/km, o que me permitiria atíngir o objectivo. Contudo os encontrões permanentes, as dificuldades nos abastecimentos e a necessidade de fazer as curvas pelo lado de fora, fizeram-me sentir a necessidade de acelerar e deixar este magote para trás.

Assim avançámos e seguimos os dois sózinhos. Fui ingerindo géis de 5 em 5 km, com a preocupação de manter um nível permanente de energia facilmente mobilizável. Verifiquei constantemente o ritmo cardíaco para confirmar o meu nível de esforço.  Nos primeiro 15 kms rondou os 150 bpm, ou seja, um ritmo muito confortavel.

Passámos à meia-maratona em 1:28’16’’ com boas perpectivas de cumprir o objectivo. Pouco depois, cruzei-me com o João, a Luísa Ralha e a Cristina Caldeira, que iam acompanhar os últimos kms de alguns companheiros Run 4 Fun.

Infelizmente por volta do 26º Km o Carlos teve de abrandar, para não massacrar mais a lesão. Eu continuei em muito bom ritmo até ao 35º Km. O ritmo cardíaco aguentou-se abaixo dos 157 bpm até este ponto.

 A partir daí tive que baixar o ritmo para os 4’16’’/km e depois para 4’20’’/km (o cardíaco foi subindo paulatinamente até aos 160 bpm). O objectivo esfumou-se numa miragem inatingível. As pernas ameaçavam ceder a qualquer momento. Estava a chegar ao limite e eu sabia-o.

Só nos últimos 2 quilómetros é que, acicatado pela próximidade do estádio e pela iminência de nem sequer conseguir melhorar o meu PBT, me atrelei a um compatriota que passou por mim e lá acelerei buscando as restantes forças, onde quer que elas se encontrassem.  Fiz o último km abaixo dos 4’00’’/km e dei o tudo por tudo no tartan do estádio. Na recta final conseguia ver os segundos a passarem no mostrador electrónico: 2:57’54’’...55’’...56’’...57’’ e já está!!!!!


A temperatura fresca e o percurso plano conjugaram-se para criar as condições propícias ao quebrar de recordes pessoais. No meu caso, proporcionaram-me uma melhoria à lá Sergey Bubka (salvo as óbvias diferenças): melhorei precisamente um segundo em relação ao meu Personal Best Time (PBT) oficial, alcançado em Dezembro na Maratona de Lisboa!


Depois revi a malta e fui tomar banho nas instalações do estádio. Juntei-me ao Gonçalo e fomos beber umas cervejas “isotónica” geladinhas.

A malta foi terminando a corrida e juntando-se em redor do autocarro. Iríamos todos juntos almoçar mais uma pratada de massa (acabou por ser paella), na Isla Magica.

E mais uma peripécia se desenrolou ante os meus incrédulos olhos. Na comitiva tinha vindo um senhor mais idoso e invisual, que correu acompanhado por um guia. Entretanto já tinham chegado todos os retardatários e nada de chegar este último par. Começámos a ficar compreensivelmente preocupados, sobretudo quando as 5 horas limite para o encerramento do percurso se completaram.

Lá decidimos ir almoçar, enquanto o Álvaro, da Real Academia, encetava demarches para descobrir do seu paradeiro.

Almocei na alegre companhia do grupo laranjinha, Run 4 Fun, cujos membros se encontravam bastante satisfeitos por mais uma aventura completada com sucesso.

Depois do almoço fomos ver se já havia novidades. Nada! Já havia sido contactada a organização da prova, os hospitais, a polícia e ninguém sabia de nada. Parecia que duas pessoas, uma envergando um dorsal e outra uma indicação fluorescente com a palavra “Guia” tinham desaparecido da face da terra! Eu pensaria que um tal par constituiria uma visão que se destacaria um pouco mais que um elefante cor-de-rosa numa reunião dos alcoólicos anónimos...

Já se conjecturava de tudo. Desidratação, ataque cardíaco, etc, etc (houve até alguém que aventou a hipótese delirante de eles se terem zangado um com o outro...). Mas claro que a verdadeira explicação, que estava prestes a ser revelada, é sempre simultaneamente mais simples e mais fantástica do que qualquer conjectura.

Finalmente lá chegaram os dois, entregues pela organização da Maratona.

O que é que tinha acontecido?

A verdade é que chegados cerca do 32º km foram abordados pela organização, que lhes deu duas opções: ou eram recolhidos naquele ponto ou então seguiam por sua conta e risco, pois a maratona tinha sido encerrada. Temerariamente, resolveram seguir, procurando a marcação azul no chão, mas rapidamente se perderam e acabaram por percorrer bem mais do que os 42 kms. O que é certo é que, numa notável demostração de persistência e determinação, lá conseguiram chegar à meta, no estádio, onde foram então recolhidos pela organização.

Por fim, lá arrancámos com destino a Lisboa, onde chegámos já depois das 22h. O Carlos teve a amabilidade de me levar até casa, onde cheguei cansado mas muito satisfeito por um fim-de-semana bastante agitado e divertido. É desta matéria que são feitas as histórias que hei-de contar aos meus netos, quando os tiver (se não estiver nessa altura muito aterefado a gerar novas histórias noutras aventuras desportivas).

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