VCUF - Volta Cerdanya UltraFons - 214 km - 10.000m D+
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"Uno de los trails de montaña más duros del panorama nacional, 214 km y 20.000m de desnível acumulado que deberán completarse en nom más de 56 horas."
Link para o site da prova:
Descrição da prova por quem já a fez:
http://corremais.paulopires.net/2013/09/ultra-trail-do-mont-blanc-utmb-168-km.html
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=TFWDUsvLCoE
"Uno de los trails de montaña más duros del panorama nacional, 214 km y 20.000m de desnível acumulado que deberán completarse en nom más de 56 horas."
Armada Lusa |
Link para o site da prova:
Há atletas que
se deixam levar pelas emoções. Eu conduzo as minhas.
A que devo as
minhas conquistas desportivas? À fisioterapia… nunca fiz!
Como explicar a
um não-iniciado como se vive o inexcedível prazer de correr longas distâncias
na montanha?
Tipicamente devolvem-me
as mais enfáticas reações de incredulidade:
“Correste 200
km?!! Tudo de seguida? Mas descansavas, certo? Ou ias sempre a correr? E
dormiste? E tu gostas de fazer isso? Gostas de sofrer?”
Julgam que sou
uma espécie de maluquinho. Mesmo as pessoas que admiram o feito, olham-me com um
misto de espanto e de pena, como se eu fosse um fenómeno bizarro da natureza.
“Este gajo não deve jogar com o baralho todo…”
E não jogo mesmo!
Faltam-me algumas cartas mas tenho outras de reserva que mais ninguém tem! São
só minhas. São aquelas que me dão a minha individualidade e me tornam um ser
único.
Para a maioria
das pessoas, correr durante 10 km já de sí é uma atividade exigente, durante
200 km então raia o absurdo. É impossível explicar que é uma distância
perfeitamente atingível para qualquer pessoa suficientemente preparada. O
corpo/mente humano é uma máquina altamente desenvolvida e é capaz de muito mais
do que aquilo que lhe damos crédito.
Como explicar o
prazer concentrado e intenso que sinto quando me embrenho na montanha e coloco
um pé à frente do outro em cadência ritmada, atento à mais ínfima parcela do
meu ser?
Não se explica,
vive-se.
A Ultra distância
faz bem à saúde? Penso que não, mas a minha posição filosófica em relação a
este assunto é semelhante à do músico Lou Reed em relação a um seu hábito
arreigado:
“Se fumar tanto
não me faz mal à Saúde? É capaz de fazer, mas por outro lado quando estou a
fumar não estou a emborcar uma garrafa de Whiskey em 15 minutos, e desse ponto
de vista fumar até é capaz de me fazer bem à saúde…”
- Lou Reed
Como começou esta
aventura?
Com um sorteio
falhado para o UTMB – Ultra Trail du Mont Blanc.
Pela 2ª vez
consecutiva não fui bafejado pela sorte no sorteio, apesar de ter resmas de
pontos… como diz a sabedoria popular, à 3ª é de vez, e para o ano de 2015 a
minha participação está garantida. Mas isso é só para o ano. Para este ano
necessitava de outro desafio de magnitude semelhante.
Descrição da prova por quem já a fez:
http://corremais.paulopires.net/2013/09/ultra-trail-do-mont-blanc-utmb-168-km.html
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=TFWDUsvLCoE
Sorteio - UTMB |
Inspirado pelo
exemplo do meu bom amigo e companheiro de várias destas Ultra aventuras, Luís
Freitas, resolvi inscrever-me nos 214 km da VCUF – Volta Cerdanya UltraFons.
Sempre seria um upgrade no nível de dificuldade experimentado até à data, e uma
boa etapa a caminho do objetivo último, que será completar os 330 km do Tor des
Geans! Esse enorme objetivo estava na calha para 2015, mas como a seleção do
UTMB me deu a volta aos planos, terá que ficar adiado para 2016.
Descrição da prova por quem já a fez:
http://jserrazina.blogspot.pt/2011/10/tor-des-geants-umas-ferias-de-sonho.html
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=H7dxdsjsmJs&sns=fb
Descrição da prova por quem já a fez:
http://jserrazina.blogspot.pt/2011/10/tor-des-geants-umas-ferias-de-sonho.html
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=H7dxdsjsmJs&sns=fb
Tor des Geants |
A
preparação para a prova está relatada no meu anterior post:
Não voltarei a abordar
o tema aqui, exceto para tecer algumas considerações acerca dos fatores de
performance no Trail.
Existe uma
multiplicidade de fatores que podem explicar o sucesso no Ultra Trail.
De acordo com os
manuais, a performance desportiva pode-se explicar decompondo-a em 3 factores
fundamentais: o VO2max, ou seja a ”potência do nosso motor” (a capacidade de transportar oxigénio até às células musculares), multiplicado pela
nossa resistência ou endurance, que é a capacidade de mantermos um ritmo
constante a uma percentagem elevada do VO2max, e dividido pelo custo energético
da nossa locomoção (relacionado com a nossa técnica de corrida).
Para cada um dos
3 factores desta equação, existem vários contributos.
O VO2max pode ser
melhorado, com trabalho duro de intensidade, mas depende também bastante da
genética e da idade do atleta.
A endurance
depende da nossa resistência à fadiga neuro-muscular, articular, da capacidade
de ingerir alimento liquido e sólido durante longos períodos de esforço
continuado, da resistência a amplitudes meteorológicas, ao esforço em altitude,
etc, mas sobretudo endurance mental.
O custo
energético está diretamente relacionado com a nossa técnica de corrida: a
amplitude da passada, a postura na corrida, o deslocamento vertical e horizontal,
o peso, etc.
No ultra Trail
existe um trade-off entre estes dois últimos fatores. Para poupar as
articulações e o sistema musculo-esquelético, o individuo tende a adotar uma
passada menos eficiente mas mais protetora.
Em conclusão, a
performance pode ser otimizada regulando os 3 fatores.
Mas quanto a mim,
o mental continua a ser o fator mais determinante quando se percorre distâncias
com 3 dígitos.
Eu chamar-lhe-ia
a capacidade de mantermos um diálogo constante connosco próprios. Durante a
corrida vou sempre alerta aos sinais do corpo e da mente e vou criando uma
narrativa da prova. É como se tivesse uma banda sonora em fundo e um fluxo
permanente de imagens a cruzarem o cérebro. Alimento a mente com as boas
experiências que tive noutras provas e também noutras áreas de minha vida, como
a familiar, os amigos, o associativismo, o trabalho. Uso todos esses
ingredientes para tecer uma história que me embala e me faz avançar etapa a
etapa.
Mas deixemo-nos
de prolegómenos, e passemos à história:
Na 3ª feira dia
3/06, apanhei o Intercidades das 17h37, que me levaria até Ovar, a casa do meu bom
amigo Luís Freitas. Como sempre, fui muito bem recebido pela simpaticíssima
família do Luís.
Na 4ª feira
acordámos bem cedo de madrugada e pelas 6 horas recebemos o Gabriel Meira e o
Paulo Freitas que se nos juntaram para fazermos juntos a viagem para os
Pirenéus no velho Ford do Luís.
Fizemos 1.200 km
sem história desde Ovar até aos Apartamentos Gran Vall em La Molina, estância
de ski nos Pirenéus Catalães, a 15 km de Puigcerdà, tendo chegado por volta das
21 horas. A viagem foi muito divertida e estabelecemos logo uma grande
cumplicidade e coesão dentro do grupo, com o bom humor a predominar.
Itinerário |
Selfie na fronteira de Vilar Formoso |
O apartamento era
muito agradável e dividimo-nos dois por cada quarto. Para além de grande
atleta, o Gabriel é um cozinheiro exímio, o que nos deu muito jeito.
Na 5ª feira, após
um passeio matinal, fomos a Puigcerdà buscar os dorsais. Encontrámos o pai do
Kilian Jornet, Eduard Jornet, na tenda da organização, a supervisionar as
operações. Levantámos o saco, com a térmica de oferta, muito boa por sinal.
Marca SportHG. Eles tinham um stand de vendas e os preços são muito convidativos,
uma vez que se encontram numa fase de entrada no mercado.
Ainda tomámos uma
cervejinha na praça principal, em frente ao campanário. Puigcerdà é uma vila
muito agradável. Pareceu-me que seria um bom sítio para levar a família de
férias e os preços não são caros.
Convívio |
Na 6ª feira acordámos
às 5 horas da manhã, cheios de adrenalina e prontos para o combate!
Pequeno-almoço abundante, onde não faltou a bela tacinha de arroz-doce, à falta da proverbial aletria.
Chegámos à Partida,
entregámos os 2 sacos que iram ser levados para os abastecimentos do km 85 e
158, com muda de roupa e de outro material, e passámos pelo controle do
material obrigatório.
Controle do Material Obrigatório |
O material
obrigatório consistia em:
- Mochila
- Casaco Impermeável
- Calças impermeáveis
- Roupa térmica que cubra todo o corpo
- Frontal com pilhas de reserva
- Refletor vermelho posterior
- Manta térmica de sobrevivência
- Recipiente com 1 litro de água (no meu caso, mochila de hidratação com 1.5 l + 2 bidons de 500 ml cada)
- Copo
- Telemóvel carregado
- Apito
Eu nunca poupo no
material obrigatório, pois no meio da montanha, sobretudo de noite, pode vir a
revelar-se providencial. Pesa imenso na mochila, mas tem que ser (sem água, anda pelos 2.5 kg; se encher a bexiga e os 2 bidons então são mais 2.5 kg!).
Para além do
obrigatório, levo ainda:
- Bastões
- T-shirt técnica
- Corsários a cobrir os joelhos
- 2ª camada para o tronco
- Boné
- Buff
- Luvas
- Manguitos
- Meias de compressão
- 5 géis de 42 g com 50 mg de cafeína + 5 géis de 42 g sem cafeína
- 6 saquetas de redrate (eletrólitos)
- 4 comprimidos de ibuprofeno (para ser usado em caso de emergência e com muito cuidado pois pode ter um efeito adverso na função renal)
- 4 comprimidos de paracetamol
- 4 comprimidos de imodium rapid
- 2 comprimidos de pantoprazol
- Bisnaga de vaselina para hidratar os pés
- Bisnaga de protetor solar
- Lenços de papel para limpar onde o sol não brilha.
- Nota de 20 euros para alguma emergência
Material usado no MIUT |
Agora a dúvida
principal é como dividir o material pelos 2 sacos que serão levados pela
organização até aos 2 pontos de muda?
A minha
estimativa é conseguir progredir a um ritmo de cerca de 5 km/hora, ou seja
demorar um total de 43 horas e chegar cerca das 3 horas da madrugada do 3º dia.
Ou seja, chegar aos 85 km cerca da uma da madrugada do 2º dia e aos 148 km
cerca das 10 horas da noite do 2º dia.
As condições meteorológicas
prevêem-se amenas durante a noite, mas é sempre possível que de madrugada nos
altos expostos, se façam sentir temperaturas próximas do zero. Pode também
chover, embora não seja essa a previsão. Na montanha o tempo é altamente
instável e é necessário ir preparado para tudo.
Previsão Meteorológica para Puigcerdà |
Por segurança
resolvo colocar mais material no 1º saco do que no 2º. Se for necessário
carregarei com mais tralha a partir do km 85, e até ao fim, caso se justifique.
No 1º saco
coloco:
- Uma réplica de toda a roupa que levo na partida, exceto impermeáveis
- Ténis de substituição
- (Esqueci-me de trazer bastões baratos de substituição)
- Frontal de substituição com pilhas de reserva
- Refletor vermelho posterior de substituição
- Telefone de substituição
- 5 géis de 42 g com 50 mg de cafeína + 5 géis de 42 g sem cafeína
- 6 saquetas de redrate
- Carregador do GPS Garmin
- Bisnaga de vaselina para hidratar os pés
- Bisnaga de protetor solar
No 2º saco
coloco:
·
- Uma réplica de toda a roupa que levo na partida, exceto impermeáveis
- Uma camada polar, para o caso do meu ciclo circadiano levar a um arrefecimento acentuado do corpo durante a 2ª noite
- 5 géis de 42 g com 50 mg de cafeína + 5 géis de 42 g sem cafeína
- 6 saquetas de redrate
- Bisnaga de vaselina para hidratar os pés
- Bisnaga de protetor solar
No saco da
chegada coloco:
- Roupa quente
- Ténis lavados
- Toalha para banho + chinelos + sabonete
- Frasco de azeitonas
Antes da partida
apliquei uma camada abundante de vaselina em todos os locais onde é exercida
fricção em movimento. 214 km podem originar muitas assaduras dolorosas. Já
chegam todas as outras dores que iremos sentir, dispenso mais estas.
Altimetria |
Percurso |
Abastecimentos |
Encontrámos os
companheiros Célia Azenha, Jorge Serrazina, José Simões e Paulo Jorge, e tirámos
as fotos de grupo. Somos 8 tugas, em 67 atletas. Trocámos encorajamentos e o
Jorge Serrazina deu a palavra de ordem para a corrida: “ninguém desiste!”
A combinar a estratégia |
Partida! |
E foi ainda com
este grito de guerra a ecoar-nos nos ouvidos que às 8 horas em ponto soou o
tiro de partida. Arrancamos cheios de alegria, 67 atletas entusiasmados pela
aventura que agora iniciamos. Passados 200 metros estacamos desorientados. Não
se via qualquer fita e não sabíamos por onde seguir. Que anti-climax! Estava
dado o mote para toda a prova: esta seria a prova mais mal marcada de todas
aquelas em que tive o ensejo de participar!
Surgem então as
motorizadas da organização que nos orientam até sairmos da Vila.
Vejo o Gabriel Meira
e o Paulo Freitas a saírem disparados na cabeça do grupo. Sigo noutro grupo com
o Luís Freitas e o José Simões. Logo à saída da vila entramos num ribeiro onde
molhamos completamente os pés. O Simões vai o tempo todo a falar, como é seu
hábito, sempre muito divertido e provocador, enredado naquele seu típico jogo
psicológico.
O primeiro
abastecimento é já em França, ao fim de 11 km. Até aqui vamos relativamente
rápidos, a um ritmo de 6 min/km e frequência cardíaca a rondar as 150 ppm. Este
percurso inicial é bastante rolante, feito totalmente em estradões, mas como
quem não quer a coisa já acumulámos 700 m de desnível positivo (D+).
Vale da Cerdanya |
Luís Ferreira |
O perfil
altimétrico do terreno é altamente enganador. Esta parte inicial da corrida
parece ser mais rolante do que aquela que iremos apanhar a partir dos 100 km,
mas a verdade é que pela marca dos 100 km já teremos feito quase metade do
desnível acumulado positivo total. É pois necessário gerir a prova com cuidado.
Eu tento correr de trás para a frente. Nos primeiros abastecimentos passo na
posição 35ª da geral da corrida, ou seja, a cerca de meio da tabela.
TraceMyWay |
Aproveitei a
viagem de comboio para Ovar para estudar com muito cuidado o percurso. Quase
que o conheço de cor, com os abastecimentos, distâncias e desníveis
característicos. Tenho uma boa ideia do que me espera.
No abastecimento
de Brangoly, aos 11 km, esqueço-me dos bastões e tenho que voltar para trás
para os ir buscar. Entretanto perco-me do Luís e do Simões que se adiantaram.
Luís Freitas |
José Simões |
O dia vai
aquecendo progressivamente. Em Llívia, aos 22 km volto a alcançar o Luís e o
Zé, quando eles vão a sair do abastecimento. Paro para comer e repousar um
pouco. Os abastecimentos em geral são ótimos, com grande variedade e abundância
de comida. Sempre que posso aproveito para comer um pouco de presunto
salgadinho. Infelizmente não encontro azeitonas.
Abastecimento do Refúgio de Vilallobent |
A minha
estratégia para a prova vai ser levar a mochila de hidratação com cerca de 1
litro de água e dois bidões de meio litro cada, um com isotónico, marca
powerade azul, e o outro com água com sal sempre que possível (saquetas de
eletrólitos da redrate).
Tomo duas
pastilhas de imodium para curar a diarreia de que venho sofrendo desde o início
da prova. Remédio santo! Bem me tinham dito que o imodium é como uma rolha.
Funciona sempre!
Quando arranco
vejo chegar o Paulo Jorge, que também vem em bom ritmo.
Mais 8 km e chego
a Saillagouse, km 30, 1.372 m D+. Aqui têm um abastecimento mais ligeiro e
demoro-me pouco. À saída de Saillagouse dá-se o primeiro incidente: encontro-me
perante um estradão que para a esquerda sobe e para a direita desce, mas não se
vislumbra uma única fita!
Subo, depois
desço e volto a subir, e fitas nada! Filhos da p#$%&! Estou desorientado,
eu e os companheiros que entretanto vão chegando. Felizmente pouco depois chega
o Paulo Jorge, que tem o track no GPS. Verificamos o track e pronto, é para
subir!
Onde estão as fitas?!! |
Ao fim de muitas
centenas de metros lá aparece uma fita. Quem marcou esta parte marcou com os
pés em vez de ser com as mãos! Nunca deve ter corrido uma prova de Trail…
Até ao alto é
raro passarmos por uma fita. É uma sensação muito desconfortável a dúvida que
se instala, “será por aqui, não será?”
O que é de
esperar numa prova é que existam fitas de tantos em tantos metros. Quando
prosseguimos mais do que uma certa distância sem encontrar fitas, então o
procedimento recomendado é voltar para trás e procurar as fitas. Aqui não
podemos fazer isso, pois existem troços com mais de 2 km sem qualquer fita.
Bem, há que continuar em frente e acreditar que se está a ir pelo caminho
certo. Não é a vida toda ela assim?
Cerdanya |
Na próxima
paragem, no Camping Las Closas, no km 43m, encontrei o Luís, que tinha parado
por estar muito enjoado e ter já vomitado algumas vezes. Tento engolir uma
tigela de massa. Está um calor terrível. A malta já deve estar a sofrer com a
torreira do sol. Enquanto estou sentado chega o Paulo Jorge, em grande forma.
Ainda me ajuda a encher a mochila de hidratação. Vou precisar de toda a água
que puder levar.
Uma maratona de
montanha já foi! 43 km com 2.300 m D+ já cá cantam! Um GTSA – Grande Trail
Serra D’Arga para abrir o apetite. Só faltam outras 4 maratonas iguais.
Entretanto, na
linha da frente, o Gabriel seguia em luta pelos 3 primeiros lugares, juntamente
com o Eugeni Rosseló Solé, vencedor da edição de 2013, e com o Ivan Galván
Siveiro. A luta é renhida. O Gabriel faz as despesas da corrida e os espanhóis
vão-se colando atrás. O Eugeni é atleta patrocionado e tem uma equipa que lhe
trata de tudo nos abastecimentos. É só chegar e encontrar a papinha toda feita.
Depois arranca primeiro e aguarda um pouco à frente que os outros se lhe juntem
para se colar novamente atrás. Todas as pequenas artimanhas contam, para ganhar
uma prova. Devem ter lido Sun Tzu, os sacanas dos Catalães…
3 primeiros |
3 primeiros - Gabriel a rebocar |
À falta da
padeira de Aljubarrota, o Gabriel vai fazendo o papel de D. Nuno Álvares
Pereira.
Nos entrementes,
o Paulo Freitas seguia em 7 ou 8 lugar, também ele a fazer uma prova magnífica.
Paulo Freitas |
Sigo para Osséjá.
Pelo caminho apanho o Jorge Serrazina. Seguimos os dois juntos, numa parceria
que se iria estender por muitos quilómetros e que se revelaria essencial para a
minha boa progressão na prova.
Jorge Serrazina |
Chegamos a
Osséjá, ao km 50, sem incidentes e daí partimos para o Refúgio de Vilallobent. A
certa altura as fitas mandam-nos seguir para a esquerda, subindo um trilho
junto a um ribeiro.
Começa aqui uma
parte da corrida em que vamos ter que subir bastante.
O Jorge ganha-me
algum terreno pois ele é um exímio trepador. Este é mais um daqueles troços sem
qualquer fita. Apenas a confiança de que estou no trilho correto me impulsiona
para a frente e para cima.
Ao fim daquilo
que parece uma eternidade chego ao fim deste trilho. Encontro enfim uma fita
que me manda seguir para a direita. Continuo mais alguns quilómetros, até
finalmente chegar ao pequeno abastecimento no topo do monte, após ter subido
800 m e chegado ao km 60. Reencontro o Simões e o Jorge. O Simões parte e pouco
depois o Jorge segue-o. Eu bebo e alimento-me e saio também. Em poucos quilómetros
volto a apanhar o Jorge.
Seguimos mais 10
km até La Barraca ao km 70, onde reencontramos o Simões. Daqui até La Molina
são 7 km aos altos e baixos, em carrocel. A meio do caminho passamos o Simões,
que é mais lento a subir. Começa a entardecer. No alto sente-se um vento forte
e fresco. Visto a térmica e coloco os manguitos. Quando estou a puxar o
manguito direito este rasga-se! Raio de porcaria! Logo na estreia! Tenho que ir
reclamar junto da Compressport.
Chegamos juntos
ao abastecimento de La Molina. Repousamos um pouco e depois seguimos para
Masella. O Jorge vai mais rápido e adianta-se.
Chego ao
abastecimento ao anoitecer, às 21h50m, com 13h50m de prova nas pernas. Este
abastecimento fica no km 85, já com 4.500 mD+ acumulado. É aqui que está o 1º
saco com a muda de roupa, o 2º frontal para a noite para a eventualidade remota
de o 1º se avariar, os géis adicionais e outro material de substituição.
Consegui chegar 3
horas antes da minha previsão inicial! Estou em grande!
Quando chego, o
Jorge está a tentar dormir um pouco. Alimento-me bem, mudo algumas peças de
roupa e hidrato bem os pés, a fim de evitar as bolhas. Telefono à minha mulher
e ao meu treinador, o Paulo Pires. Digo-lhes que a corrida me está a correr
muito bem. Não tenho tido quaisquer problemas gástricos, os músculos, os
tendões e as articulações continuam em boa forma. Os pés estão frescos e sem bolhas.
Enfim, a minha componente de endurance está a responder muito bem.
Congratulo-me por isso, mas sei que ainda faltam quase 2/3 de prova e portanto
ainda é muito cedo para soltar foguetes, à boa moda portuguesa.
Aguardo um pouco
pelo Jorge, que está a acabar de comer, e saímos os dois juntos, com um
entendimento tácito que iremos percorrer esta primeira parte noturna da prova
juntos. O Jorge é um bom parceiro. Temos um ritmo muito semelhante e vamo-nos
apoiando um ao outro. Saímos do abastecimento pelas 22h40m. Ainda vislumbro o
Paulo Jorge a chegar ao abastecimento, com excelente aspeto.
Ao fim de uma
curta distância apanhamos um grupo de 3 espanhóis. O Jorge conhece um deles da
prova do ano passado. Dois deles decidem seguir connosco. Vou na liderança e
acelero pela encosta abaixo. Com o refrescar da noite, a mudança de roupa e a
refeição completa do abastecimento anterior, sinto-me mais afoito. Contudo,
mercê desse meu ritmo mais vivo, tropeço por duas vezes nas pedras, e caio ao comprido, felizmente
sem qualquer consequência para além de pequenas escoriações.
Rapidamente
alcançamos o abastecimento de Úrus, ao km 92, após descermos 733 m a um ritmo
meio alucinado. Espero não vir a pagar por esta ousadia. Nestas descidas
violentas os músculos das coxas, o s quadríceps sofrem um desgaste muito
grande. Encontro-me neste momento na 19ª posição.
No abastecimento
comento com o Jorge que me esqueci do frontal de substituição no abastecimento
anterior. Gosto sempre de levar um frontal extra mais pequeno para o caso do
frontal principal se avariar. De noite a falta de frontal é a morte do artista,
sobretudo se estivermos sozinhos. Não temos qualquer possibilidade de
progredirmos no terreno a menos que algum bom samaritano nos alumie o caminho.
Arrancamos e
seguimos novamente com os dois espanhóis, o Juan Salvador Oroval, Valenciano velho
conhecido do Jorge, e do outro não me recordo o nome. Eu e o Jorge fazemos a
despesa da Corrida, indo sempre à frente a liderar. O Jorge bem tenta
incentivar os “nuestros hermanos” a passarem para a frente, mas estes assobiam
para o ar. Deve ser um costume espanhol, deixar os portugueses irem à frente
para depois lhes roubarem as conquistas. Já vem desde o tempo dos
descobrimentos…
Parecemos um grupo
de guerreiros Masai, em fila, com o líder mais experiente à frente (o Jorge), em
perseguição de um leão assassino. Só que o nosso leão são os nossos medos
internos…
Vamos ter que
subir 700 m até ao km 104, onde se encontra o Refugio Cortals de l'Ingla. Já
que não querem liderar, os espanhóis terão que seguir ao sabor do nosso ritmo e
dos nossos caprichos. A certa altura o Jorge decide que nos encontramos num
sítio bom para nos encostamos um bocadinho, na relva fofinha. Os castelhanos
anuem de imediato. Até fecham os olhos os cabrões!
Uns minutos
depois levantamo-nos e seguimos. Vamos fazer os sacanas suar as estopinhas!
Continuamos a imprimir um forte ritmo. De noite está mais fresco para correr.
Não sofremos com o bafo insuportável do calor que se verifica durante o dia.
Ouço Nick Cave a cantar as “Murder Ballads” alto e bom som na minha cabeça. Vou
embalado.
Quando chegamos
ao refúgio, o Juan Salvador começa a vomitar. Informa-nos de que já não é a
primeira vez. Mais tarde o Paulo Freitas confirmará que pode testemunhar essa
indisposição intermitente, pois ainda correram os dois juntos durante bastante
tempo.
Um dos principais
desafios da corrida de Ultra-Distância, versão XL, senão mesmo o principal pois
tudo depende da boa performance neste fator, é a capacidade do sistema
digestivo ingerir alimento sólido e líquido sem atingir a saturação começando a
rejeitar tudo.
Depois do
refúgio, descemos 580 m até Ajuntamento Bellver no km 112. Já começo a sentir o
esforço das descidas a acumular-se nas coxas. As contrações excêntricas são
muito desgastantes para os grandes músculos das pernas. Este misto de colaboração/competição
com os espanhóis, tem as suas vantagens e os seus inconvenientes. Andamos mais
depressa mas também nos desgastamos mais.
A verdade é que
já subimos um total de 5.451 m e descemos um total de 5.735 m.
Quando finalmente
chegamos ao Bellver, encontramos um abastecimento ao ar livre em frente a um
pavilhão desportivo! Cá fora está fresco, mas dentro do pavilhão está
quentinho. Que raio de ideia ter um abastecimento exposto aos elementos, com um
pavilhão quentinho mesmo ao lado! A maioria dos abastecimentos desta prova
estão expostos aos elementos. O que vale é que a temperatura noturna está
amena.
O voluntário da
organização conta-nos que existem imensos portugueses a incentivarem-nos nas
redes sociais, nomeadamente no twitter e no site da TraceMyWay. É sempre muito
animador sentir que somos alvo desse tipo de carinho e apoio! Dá-nos uma alma
nova.
O Jorge pergunta
se pode se ir estender um pouco dentro do pavilhão. Lá lhe respondem que não há
camas mas que sim, que pode. Depois de comer qualquer coisa, sigo-o até lá
dentro. Um dos espanhóis deita-se num colchão de ginástica. O outro faz
alongamentos. O Jorge deita-se nas bancadas e eu sigo-lhe o exemplo. Estamos
ali uns 10 minutos a olhar para o teto de olhos arregalados e levantamo-nos novamente.
Amigos, é altura de avançar! Bamo-nos nosotros!!!
À saída o Jorge
come uma banana e subitamente, sem qualquer aviso, fica com um ar muito enjoado
e vomita numa valeta.
Após um bocadinho
para recuperar, lá seguimos novamente. Ao fim de pouco tempo perdemos os
espanhóis. Que é feito deles? perguntamo-nos. Encolhemos os ombros e seguimos.
Subimos 288 m até
Nas. no km 118, com 5.740 m de D+ acumulado. É quase como se tivéssemos acabado
de completar um MIUT, com os seus 115 km e 6.800 m D+.
Estamos com 21
horas de prova e são 5 horas da manhã. Em Abril demorei 26 horas a completar o
MIUT. É certo que neste momento ainda tenho menos 1.000 m D+ que na prova da
Madeira, mas a verdade é que me sinto bem mais forte do que me sentia há 2
meses atrás. É bom sinal.
No abastecimento
de Nas, o Jorge vê-se forçado a parar, pela incapacidade em ingerir alimento e
pelo enjoo. Já experimentei enjoo numa prova e garanto que é altamente
debilitante. Já para não falar na falta de energia que provoca, pela incapacidade
de assimilar calorias.
Já falta apenas
uma hora para o dia clarear e o Jorge incentiva-me a continuar. Acordamos que o
melhor é o Jorge ficar algum tempo a recuperar e eu vou seguir pois estou bem.
A partir daqui
tenho uma subida acentuada e muito mal marcada até à passagem do homem morto
(Coll de l’Home Mort). Que nome tão sugestivo… Subo 815 m durante cerca de 8
km. Entretanto amanhece. É sempre com uma enorme alegria que acolho o
amanhecer! O deus Sol saúda-me com os seus raios maravilhosos. Desligo o
frontal. Até aqui as pilhas aguentaram-se e não necessitei do 2º frontal. Que
alívio!
Chego ao topo às
7h da manhã, já com um sol resplandecente. O tempo anuncia-se quente. Vamos ter
um dia infernal, com mais de 30ºC nos locais expostos! Não será o inferno de
Hieronimus Boch mas muito perto…
O abastecimento é
muito pequenino, apenas com duas cadeiras para quem chegar poder sentar-se. O
voluntário que lá está diz-me que estou a ir muito bem. Aponta para uma aldeia
na encosta da serra em frente e diz que agora vou ter que descer até lá abaixo
e depois subir até alí.
A aldeia chama-se
Estana e está apenas a 13 km. No entanto vai ser necessário descer 976 m e
depois subir 657 m até chegar ao km 139.
Ponho-me ao
caminho. Ao fim de pouco tempo sou apanhado pelo Juan Salvador, que parece ter
ganho uma nova vida com o amanhecer. Ele desce a bom ritmo e acelero tentando
segui-lo. A certa altura somos ultrapassados pela primeira mulher em prova e
ele segue disparado em sua perseguição. Ai o orgulho dos homens! O que os leva
a fazer!
Deixo-o ir curar
o seu orgulho ferido e lá sigo ao meu ritmo. Eu não tenho qualquer problema em
ser ultrapassado por elementos do sexo forte. Até me agrada, sempre lavo a
vista cansada de homens barbudos a cheirar a cavalo.
A descida e
subida parecem nunca mais acabar. Quase não existem fitas, o que me deixa muito
desconfortável.
Já com a vila à
vista vou desembocar a uma estrada onde se encontra uma placa rodoviária com a
indicação de Estana. Que raio, onde estão as fitas da organização?!! Julgo que
já deveria ter passado por uma fita que me indicasse para subir. Estana está
mesmo ali em cima! Resolvo continuar pela estrada, que por ai é garantido lá
chegar, mesmo que leve mais um ou dois quilómetros. Quando é necessário, improvisa-se!
Estana |
Quando finalmente
chego, lá reencontro o Juan Salvador, que se prepara para sair. A primeira
mulher tem um ar um pouco combalido, julgo que do calor intenso que já se
sente. Ele sai primeiro que ela. Deve estar satisfeito.
Em Estana
dizem-me que os abastecimentos foram alterados. O próximo, o Óasis com a 2ª
muda de roupa, será não em Martinet a 9 km, mas sim em Arànser a 20 km!!!
Filhos da p#$%&!!! Com este calor, obrigarem-nos a andar 20 km sob um sol
inclemente chega a ser criminoso!
Encho a mochila
de hidratação até deitar por fora, com 1.5 litros de água, e atesto também os
dois bidões de 500 ml, um com água com sal e o outro com água apenas. Vou
necessitar de toda a água que puder levar, mesmo que isso represente carregar
com mais 2.5 kg às costas, além de toda a outra tralha.
TraceMyWay |
A subida para
Arànser é um verdadeiro tormento de Tântalo. Vou bebendo água com moderação,
com receio que se acabe a qualquer momento. Felizmente por vezes sopra uma
brisa muito ligeira que me vai permitindo arrefecer um pouco.
Espanto-me por
não encontrar quaisquer bicas de água nas povoações por onde passamos. Que
raio! Não estamos nos Pirenéus?! Deveria existir água por todo o lado! Mas
sempre que passo por um ribeiro aproveito para encharcar a cabeça, para ver se
arrefeço a moleirinha, antes que o meu cérebro se liquefaça…
Após um enorme
sacrifício, às 13h lá chego ao Oásis do abastecimento, no km 158. Basicamente
já cumpri 100 milhas, com cerca de 8.000 m D+, e tenho 29 horas de prova. Ou
seja, tenho seguido num excelente ritmo para as minhas capacidades. Estou
contente com o meu desempenho até aqui. Continuo 3 horas adiantado à minha
previsão. Estou agora na 13ª posição.
Para celebrar, e
para recuperar energias para as duas grandes subidas e descidas que ainda
faltam, resolvo tomar um banho de chuveiro e hidratar a pele, sobretudo dos
pés, com doses abundantes de vaselina. Troco a roupa, carrego um novo conjunto
de géis, pois suspeito que agora é que vão começar a fazer muita falta, quando
o estomago já não suportar mais nada.
Como e bebo com
moderação, pois o estomago já está muito massacrado.
Penso nos
companheiros e pergunto-me como estarão. Espero que o Luís e o Jorge tenham
recuperado completamente. Estou certo que sim.
Mais tarde vim a
saber que o Jorge, ao passar no abastecimento que ficava à entrada do
restaurante, julgo que aquele onde me encontro neste momento, terá olhado fugazmente
para a comida da organização e terá dito de imediato: “ná, nada disto!!!”
Dirigiu-se mas é ao dono do restaurante e perguntou-lhe o que este lhe poderia
servir por 10 euros! Ao que parece o homem terá preparado uma grelhada mista
por 8 euros e ainda deu para uma cerveja, que o Jorge não dispensa nas provas.
Excelente isotónico, posso comprovar!
É este espírito
que me faz adorar o Trail! Lidamos com o imprevisto e temos que nos adaptar a
ele, não o contrário. Como um companheiro muito bem disse, a preparação é ainda
muito mais importante que o planeamento. Se estivermos bem preparados, o que poderá
fazer a diferença é a capacidade de adaptação, o improviso e nisso toda a gente
sabe que nós Portugueses somos mestres.
Estarmos
preparados, é termos em antecipação tentado prever as várias contingências e
termos ensaiado na nossa mente como poderemos responder a elas. Mantermos as
nossas opções em aberto, e termos vastos recursos de experiência e imaginação
para respondermos ao imprevisto.
A Economia é a
ciência da alocação ótima dos recursos escassos. É também precisamente nisso que o
Ultra Trail consiste.
Por exemplo, num
Ultra Trail ao fim de 30 km já consumimos todas as nossas reservas de
glicogénio que levávamos acumuladas no fígado e nos músculos. Passamos a
degradar gorduras e viver do que consumimos nos abastecimentos e daquilo que
carregamos connosco. No entanto é praticamente impossível ingerir calorias
suficientes para substituir aquelas que vamos consumindo. Acabamos a prova com
alguns kgs a menos mercê da desidratação mas também da degradação da gordura e
do catabolismo do músculo.
Temos que gerir o
uso dos músculos e articulações de forma inteligente. As fibras vão acumulando
micro-roturas que nos podem fazer parar completamente antes do término da
prova.
Temos que saber
gerir a roupa, para não aquecermos ou arrefecermos demasiado e não eliminarmos
demasiada água pelo suor. Gerir os sais minerais para não sofrermos de
cãimbras.
Enfim, o Ultra
Trail é uma disciplina altamente técnica, que exige algum estudo e experiência
e muita capacidade tática e estratégica. É isso precisamente aquilo que o torna
fascinante.
Às 13h50m
abandono o Oásis, com alguma relutância. Ainda me falta cumprir 54 km de corrida
com 2.350 m D+. Enfim, mais um Ultra Trail até chegar à meta. E o perfil
altimétrico deste troço restante assusta! Duas subidas com um aspeto
intimidante!
O calor continua
sufocante! O Juan Salvador tinha partido pouco depois de eu chegar, com a
promessa de tomar um banho de imersão no primeiro rio ou ribeiro que
encontrasse. Grande maluco este espanhol! Até agora tem sido sem dúvida uma
companhia refrescante, sempre muito animado. Chama-me “O Português”. Tomo isso
como um elogio.
Teoricamente o
próximo abastecimento é em Cal Jan de la Llosa, a 13 km de distância. Na
prática corro kms intermináveis sem encontrar a porra do abastecimento! Um
pouco antes de Cal Jan de la Llosa sou acompanhado por um membro da
organização, que corre ao meu lado incentivando-me. Passamos por Cal Jan de la
Llosa e nada de abastecimento. Ele diz-me que ainda tenho que correr mais uns 2
ou 3 kms. E de facto, só ao fim de mais 3 kms é que finalmente chego a uma
curva da estrada onde se encontra um voluntário com água e isotónico. Ele
confirma que o abastecimento foi alterado porque 3 km atrás não havia rede!
Por hoje já me
chega de surpresas. São agora 16h10m da tarde, tenho 34 horas de prova nas pernas,
estou no km 175 e ainda me faltam 39 km até ao fim. Já bati o meu anterior
recorde de distância, que se cifrava nos 168 km. Progrido agora em terra
incógnita. Acabei de dobrar o meu Cabo Bojador!
Ao virar da
curva, dou com o Juan Salvador, encostado a uma carrinha, a beber isotónico e
água fresquinha. Parece que ele tem a sua própria equipa de apoio, na pessoa do
seu filho!
Mais tarde venho
a saber, pelo Paulo Freitas, que também andou bastantes kms com ele, que o
filho o acompanhou sempre pelos pontos de abastecimento, com alimentação
própria e computador e tudo, para poder verificar a posição dele na corrida.
Isso é que é serviço!
Juan Salvador e Paulo Freitas |
Aos 85 km, ele
terá ficado uma horita a dormir e o Paulo deixou-o para trás.
A partir daqui
seguimos novamente juntos. Subimos, subimos e subimos… Passamos por manadas de imponentes
vacas que pastam em prados verdejantes. Finalmente alcançamos os 2.200 m de
altitude.
Agora temos que
descer 560 m até Talltendre. A descida é agreste, com bastante pedra, sigo na
liderança com o espanhol atrás. Estamos ambos massacrados mas vamos com bom
ritmo.
Lá chegamos ao
abastecimento, no km 181. É aqui que a corrida dos 87 km se junta à nossa. Pela
primeira vez encontro um abastecimento cheio de gente. Continuo na 13ª posição.
A malta dos 87 km olha-nos com uma enorme admiração.
Por esta altura
estará o Gabriel a bater-se pelos primeiros lugares. A escassos quilómetros da
meta segue destacado em 3º lugar. Já falta pouco e o pódio já é garantido
quando a fatalidade acontece! Numa curva mal assinalada (mais tarde eu próprio
tive a mesma dúvida no mesmíssimo local) o Gabriel entrou por um campo de milho
e perdeu-se completamente. Quando retornou ao ponto do erro, já estava em 4º
lugar a 20 minutos do 3º. Nada a fazer, apenas cerrar os dentes e seguir até à
meta, que nas grandes adversidades é que se vê de que matéria são feitos os
homens.
Após 33h58m de
prova o Gabriel cruza enfim a linha de chegada, ainda em pleno dia. Chegou com
os pés num estado verdadeiramente lastimável. A organização até lhe tirou umas
fotografias à planta dos pés toda cozida, tal o aspeto. Seguiu direto para o
pequeno hospital local para lhe enfaixarem os pés.
Gabriel Meira |
Suponho que tenha
tido problemas com os ténis, que não escoavam a água. Os meus ténis são
altamente permeáveis. A água entra facilmente mas como entra, também sai com
toda a facilidade. Enquando corro, em minutos secam.
O Paulo Freitas
chega duas horas e meia depois, num excelente 8º lugar, e com os pés também
bastante massacrados.
Paulo Freitas |
Entretanto já saí
de Talltendre atrás do Juan Salvador. Ele encontrou uns amigos e parece outro!
Sou ultrapassado pela malta mais fresca dos 87, mas o Juan Salvador vai buscar
forças para seguir num grupo com eles.
Mais tarde virei
a saber que ele fez 4º lugar na prova do ano passado, por isso não é um gajo
qualquer mas sim um atleta experimentado.
Nos próximos 14
km vou ter de descer 390 m e subir 200 m. Não é muito mas o calor continua a
afetar-me. São umas 20h da tarde mas o tempo mantém-se quente.
Sigo ao meu ritmo
até finalmente chegar a Meranges, já muito cansado. Passaram-se 195 km desde o
início. Já subi 9.500 m D+. São 20h40m. Já estou a correr há quase 37 horas.
Faltam 19 km. Ou seja, mais umas 4 horas para chegar à meta, estimo eu. Já não
vou conseguir manter as 3 horas de antecipação ao plano e chegar antes da
meia-noite. Também, que se lixe, os meus ténis não se vão transformar em
abóboras…
Recebo uma enorme
ovação quando chego ao abastecimento. A malta dos 87 km tem mesmo um enorme
respeito por aqueles, como eu, que já fizeram mais 120 km do que eles.
Repouso 10
minutos e arranco para a etapa final. Esperam-me 3 km de subida agreste, com
uma pendente de 20%, onde vou subir 586 metros até ao refúgio de Malniu. Depois
terei que subir mais um pouco até aos 2.300 m de altitude, antes de finalmente
baixar para Puigcerdà.
Eugeni a trepar |
A subida para o
refúgio é extenuante. Vou subindo passo a passo, tentando acompanhar o ritmo da
malta dos 87 km, mas com uma enorme dificuldade. O meu peito quase rebenta.
Ouço Beethoven na minha mente. Sinfonia nº 6 (Pastoral). O poder telúrico da
música romântica ajuda-me a subir.
Quando enfim,
após o que parece uma eternidade, chego ao refúgio, nem quero acreditar! Estou
no km 198, já só faltam 14! Sinto-me como se tivesse atingido o cume dos
Himalaias. Não tenho qualquer dúvida que chegarei à linha da meta.
Chego ao
anoitecer. Tenho que vestir roupa mais quente e colocar o frontal para a noite
que cai rapidamente.
Às 22h arranco
para as 3 últimas etapas, curtas cada uma delas.
Corro, mais 5.7
km e subo mais 127 m até Fontanera. Já passei a barreira dos 200 km! Que número
tão redondo! Faltam 11 até à meta. Aqui já nem existe controle de dorsal. Nem
paro para comer ou beber. O estomago já se recusa a ingerir o que quer que
seja. Cada vez que levo água à boca sinto logo vómitos.
Toca a descer que
já se vê as luzinhas lá em baixo. Faltam descer mais 800 m. As canetas que se
aguentem carago! Dou-lhe com força, sempre no risco iminente de mandar um bom
tralho. Depois de um troço inicial sobre a relva fofa, passo para um troço com
muita pedra solta. Vou o melhor que aguento. Só espero não me despenhar nesta
parte. Vejo e ouço umas luzinhas brancas a aproximarem-se. Serão atletas dos 87
km, mas eu não quero facilitar. Acelero ainda mais. A distância mantém-se. Faço
prodígios de equilibrismo. Salto, pulo, danço sobre as pedras, numa coreografia
louca,qual Baryshnikov dos Trails. Estou quase a chegar ao último abastecimento,
em Guils. Mais um pequeno esforço… e lá chego antes dos pirilampos que me
perseguem. Nem abrando, sigo pela estrada e depois pelo estradão que desce para
Puigcerdà. Na 6ª feira de manhã já tinha passado por aqui. Vou recordando o
percurso. Estou quase, estou quase, estou quase!!! Agora é o Ó Fortuna da
Carmina Burana que me ecoa nos ouvidos.
Vou num ritmo que
me parece quase um sprint, a cerca de 5 min / km. As fitas continuam escassas,
mas lá me vou conseguindo orientar com alguma dificuldade e muita fé. Sigo
novamente pelo leito do ribeiro. Nem hesito em molhar os pés. É coloca-los
completamente dentro de água que nem vale a pena tentar evitar o ribeiro.
Ainda não parti
nenhum osso, nem sei bem como. Finalmente saio da água e pouco depois chego aos
arrebaldes da Vila. Ainda vai ser necessário correr um pouco mais, mas já
cheira a meta. Tento não abrandar. Entro numa estrada com um carreiro para os
corredores demarcado por umas grades amovíveis. Corro com os braços e pernas
coordenados para uso dos bastões. Corro com as orelhas, os olhos, os lábios,
tudo, tudo, tudo! A dado ponto tropeço sem saber como e caio desamparado de
queixo no alcatrão. Foi como se levasse um forte gancho de esquerda do Jon
‘Bones’ Jones. O queixo sangra, mas nada de especial. Doem-me os maxilares, mas
não necessito desses para correr. Não estou num combate de MMA – Mixed Martial
Arts, embora por vezes pareça estar.
De cara à banda e
sangue no queixo lá prossigo para a meta. Este troço final parece que foi
desenhado por um sádico. Depois das duas subidas demolidoras até aos 2.300 m,
ainda temos que fazer umas subidinhas dentro da própria vila, incluindo
escadarias que já dispensaria de bom grado…
Final |
Ainda por cima já
só disponho de um bastão utilizável, uma vez que o da mão direita se partiu na
queda. Uma coisa vos digo: não vejo como poderia ter feito esta prova sem o
auxílio precioso dos bastões. Foram imprescindíveis e tornaram-se mesmo uma
segunda natureza ao longo da prova. Um prolongamento dos meus braços. Próteses
providenciais. Ainda hoje me espanto quando olho para as mãos e não os encontro
lá.
Finalmente entro
no túnel da meta, basta sprintar mais uns metros para por fim cortar a linha de
chegada, às 00h50m, após 40h50m de prova. Cheguei, cheguei cheguei!!!
Diploma |
Encontra-se pouca
gente por ali a estas horas. Nem sequer tenho direito a uma foto na linha de chegada. Há os massagistas e a refeição quente, mas não me
apetece nem uns nem outros. De qualquer forma não há azeitonas... Peço a um voluntário que me leve a algum sitio onde
façam a revisão ao meu queixo, caso precise de pontos, arames, próteses, ou o
que for.
Levam-me ao
minúsculo hospital local onde sou muito bem atendido. Mais tarde venho a saber
que o Gabriel já por lá teria passado para tratar os pés muito massacrados.
Sou atendido por
um médico muito bem disposto que insiste em falar comigo num português
abrasileirado muito macarrónico. Faz-me a minha história clínica e eu conto-lhe
que sou hipertenso desde 2008. A partir daí ele não me larga e pergunta-me
repetidamente se não sinto o peito comprimido quando subo a montanha. Eu penso
com os meus botões: “sim, eu e todos os outros… tenta lá tu subir a montanha ó
gordo!” mas não digo nada.
Verificam-me o
maxilar e o queixo. Parece estar tudo em ordem, apesar de a mim me parecer que
os tímpanos estão prestes a explodir. Colocam-me um penso no queixo e mandam-me
embora.
Recebo uma
chamada da Helena, muito feliz por eu já ter acabado, e eu muito feliz por
poder partilhar com ela mais esta conquuista.
Telefono também
para o meu treinador, o Paulo Pires, que também fica muito contente por eu já
ter terminado.
De facto a prova
correu-me bem. Para mim, correr bem significa sentir que fiz aquilo que estava
ao meu alcance. Dei o que tinha para dar. Não ficou nada de reserva. Não há
arrependimentos.
Entretanto na
montanha o Jorge tinha um azar com o frontal, que se avariou. Isso custou-lhe
ficar imobilizado algum tempo e perder o 1º lugar no escalão de Masters. Mas como
sempre o Jorge encarou essa contrariedade com fair-play e às 5h24m da manhã
cruzava finalmente a linha de meta, cansado mas feliz, sobretudo por ter
completado mais um dos inúmeros Ultra Desafios da sua longa carreira.
O Paulo Jorge
seguiu-se-lhe pouco depois, às 6h19m, já com o início do novo dia. A Teresa
esperava-o na meta. Este homem tem um andamento muito certinho e termina sempre
todas as provas que inicia. Já tem também um curriculum invejável de provas
tamanho XL.
Paulo Jorge - Refeição de acolhimento |
Entretanto o
Paulo Freitas tinha-me ido buscar e às 2h eu estava no apartamento. Conforme
combinado, fiquei eu de ir buscar o próximo elemento, que seria o Luís Freitas.
Quando falei com
o Paulo Pires, este mostrara-se preocupado com o facto de o Luis estar dado
dado como desistente pela organização. No entanto não se conseguia contactá-lo
pois tinha o telemóvel desligado.
Fiquei um pouco
preocupado, mas imaginei que talvez o Luís tivesse ficado a descansar nalgum
abrigo e na realidade ainda estivesse em prova. Parecia-me o mais provável.
Depois de um
banho revigorante, e de uma cerveja geladinha, deitei-me completamente vestido
para a eventualidade do Luis telefonar a qualquer momento. Acordei pouco depois
com o sms do Paulo Jorge a dar-me a novidade de que já tinha chegado, o que me
deu uma grande alegria. Aos poucos a Armada portuguesa ia dando à costa.
Daí a pouco o
resto da malta acordou e decidimos ir para Puigcerdà para tentar descobrir o
que se passava com o Luís e para o Gabriel mudar as ligaduras no hospital.
Deixei o Gabriel
e o Paulo e frente ao hospital e fui estacionar o carro.
Cheguei à meta
mesmo a tempo de ver chegar o José simões e o Luís Freitas em tandem!!! Eram
10h54 da manhã e eles estavam visivelmente cansados mas bem de saúde. Tinham ultrapassado
as enormes dificuldades que tinham encontrado pelo caminho e aqui estavam, mais
dois guerreiros vitoriosos!
José Simões e Luís Freitas |
O Luis contou-nos
então a sua história. Alguém da organização tinha-se enganado no dorsal e tinha
identificado incorretamente o Luís como desistente, quando ele nunca se deu por
tal em qualquer momento da prova. O mais desagradável disto é que nem sequer
tinham levado o 2º saco para o abastecimento dos 158 km!
Enfim, mais um
erro de amadorismo. Não fizeram double-check de uma informação errónea.
Dêem-me uma cervejinha, por favor... |
Depois do Luis se
alimentar, fomos esperar pela cerimónia de entrega de prémios, uma vez que
vários dos nossos atletas iriam subir ao pódio!
Eu aproveitei
logo para beber duas canecas fresquinhas quase de penalti, que me sentia seco
que nem um bacalhau…
Isotónico! |
Entretanto
fomo-nos perguntando como estaria a Célia. Sabíamos que ela teria chegado ao
topo da última subida e portanto já não seria barrada até à meta. O tempo
limite para completar a prova era de 56 horas, mas estávamos convictos que ela
chegaria ainda bem dentro desse limite.
Mais tarde ela
contou-nos que tinha ficado presa no alto da montanha durante algumas horas e
só depois é que conseguiu prosseguir.
E foi com enorme
alegria que ouvimos anunciar o nome Célia nos altifalantes à medida que se
aproximava da meta, à 13h43m. Agora sim, estávamos todos os 8 portugueses que
tínhamos iniciado esta enorme aventura mais dois dias e algumas horas antes!
Tínhamos
conseguido a quadratura do círculo! Tínhamos chegado à Índia e retornado com as
valiosas especiarias!
Fomos aplaudir
todos os nossos companheiros que foram ao pódio, e combinámos jantar juntos
essa noite.
O vencedor da prova foi novamente o Eugeni Rosseló Solé em 32h17m.
O vencedor da prova foi novamente o Eugeni Rosseló Solé em 32h17m.
Pódio Séniores Masculinos |
Pódio Geral Feminina |
Pódio Masters Masculinos |
Chegado a La
Molina ainda mamei duas cervejas fresquinhas antes de fechar a pestana durante
uma horita, para recuperar para a night. Infelizmente não havia azeitonas para
acompanhar.
Às 23 horas
encontrámo-nos com os restantes portugueses voadores e fomos jantar a primeira
refeição a sério desde o término da corrida. A comida soube-me divinamente,
apesar de sofrer de uma grande dificuldade em mastigar, fruto do gancho de
esquerda que tinha recebido há algumas horas atrás, do traiçoeiro alcatrão. Mas
melhor ainda me soube a conversa, a amizade e o convívio. Estávamos todos nas
nuvens, e o grau de cumplicidade que se estabeleceu entre nós nas últimas 56
horas era denso e palpável.
Armada Lusa |
Pertencemos a uma
tribo muito especial, a tribo dos Trail Runners. Entre nós existe sempre motivo
de conversa, experiências para trocar, admiração e respeito mútuos.
Na 2ª feira
levantámo-nos bem cedinho para embarcarmos na longa viagem de regresso para
Ovar. Foram 1.200 km bem durinhos para atravessar a comprida meseta ibérica. Já
não tínhamos posição para colocar as pernas.
Foi com grande alegria que cruzámos a fronteira de Vilar Formoso. Não há nada como a nossa terra! Aproveitámos para repetir a selfie, desta vez em versão pós-prova.
Selfie de Vilar Formoso |
Em Ovar
separámo-nos do Gabriel e do Paulo, que ainda teriam que fazer mais alguns kms
até Viana.
Jantei com os
Freitas, uma excelente feijoada, que repeti 3 vezes, quase até rebentar. Caí na
cama como uma pedra. Graças à hospitalidade dos Freitas, pude regressar para
Lisboa, no Intercidades das 13h17, 3ª feira dia de Portugal, data altamente
simbólica. Ainda levei um tupperware cheio de feijoada, não fosse ter fome pelo
caminho! Havia de ser lindo, eu, na 1ª classe, a sacar da colher e regalar-me
alarvemente com a feijoada. Faria lembrar uma cena muito famosa de um filme do
Terence Hill, para quem se recorda dos Western Spaguettis cheios de porrada, em
parceria com o Bud Spencer.
Em casa, qual
Ulisses que retorna à pátria, fui recebido pela minha maravilhosa família, que
faz com que tudo isto valha a pena.
Tomei então
conhecimento do enorme apoio que nos foi dado à distância pelos nossos
familiares e amigos, nos social media, sobretudo Facebook e no site da TraceMyWay,
onde li os inúmeros comentários de incentivo e apoio que foram sendo colocados
ao longo de toda a Odisseia por toda uma comunidade que vibrou connosco,
sobretudo a minha Mãe que acompanhou sempre muito de perto a prova de toda a
Armada Lusa.
TraceMyWay |
Para terminar, deixo
algumas estatísticas dos 214 km da VCUF 2014:
Nota-se bem que
os resultados da representação Portuguesa são superiores em média aos das
restantes nacionalidades.
Chegámos mesmo muito perto de ter um representante no pódio da Geral Masculina, na pessoa do Gabriel Meira, que fez uma prova soberba e só mesmo no fim, fruto de má marcação do percurso, viu escapar o 3º lugar.
Tivémos, no entanto, uma representante no pódio da Geral Feminina, na pessoa da grande Célia Azenha, preseverante até ao fim, após ultrapassar grandes dificuldades.
Todos nós tivémos que, em diversos pontos da corrida, ultrapassar fortes obstáculos, de variadas naturezas, mas todos os conseguimos superar e isso deu uma consistência ao grupo fora do comum.
Julgo que estes resultados se deveram em boa parte ao grande espírito de camaradagem, solidariedade e entre-ajuda que existiu entre os elementos da comitiva Lusa, e também dos muitos portugueses que nos apoiaram à distância!
Pela parte que me toca, garanto que senti a presença de muita gente comigo, durante todos os 214 km da prova.
Em suma, foi com indesmentível orgulho que tive o privilégio de fazer parte desta equipa magnífica.
Chegámos mesmo muito perto de ter um representante no pódio da Geral Masculina, na pessoa do Gabriel Meira, que fez uma prova soberba e só mesmo no fim, fruto de má marcação do percurso, viu escapar o 3º lugar.
Tivémos, no entanto, uma representante no pódio da Geral Feminina, na pessoa da grande Célia Azenha, preseverante até ao fim, após ultrapassar grandes dificuldades.
Todos nós tivémos que, em diversos pontos da corrida, ultrapassar fortes obstáculos, de variadas naturezas, mas todos os conseguimos superar e isso deu uma consistência ao grupo fora do comum.
Julgo que estes resultados se deveram em boa parte ao grande espírito de camaradagem, solidariedade e entre-ajuda que existiu entre os elementos da comitiva Lusa, e também dos muitos portugueses que nos apoiaram à distância!
Pela parte que me toca, garanto que senti a presença de muita gente comigo, durante todos os 214 km da prova.
Em suma, foi com indesmentível orgulho que tive o privilégio de fazer parte desta equipa magnífica.
Gostaria também
de endereçar um agradecimento especial ao meu treinador, Paulo Pires. Sem o
treino rigoroso que ele prescreve isto seria possível, mas muito mais difícil (não seria a mesma coisa).
Link para um vídeo da prova dos 87 km:
http://vimeo.com/99013920
Fotografias da prova dos 214 km:
https://plus.google.com/u/0/ photos/+ VoltaCerdanyaUltrafons/albums/ 6026436482617954385
Link para um vídeo da prova dos 87 km:
http://vimeo.com/99013920
Fotografias da prova dos 214 km:
https://plus.google.com/u/0/
Fantástico Luis. Fantástico...
ResponderEliminarGrande feito! Parabens!
ResponderEliminarExtraordinário. Parabéns! :-)
ResponderEliminarExcelente Luís. Mais uma grande conquista. A seguir ao UTMB mais de 300 km. És um fantástico atleta e grande escritor. Gosto muito de ler os teus épicos relatos. E também fiz questão de te ir " acompanhando " nesta grande aventura. Parabéns e Runabraços
ResponderEliminarOlá Luís,
ResponderEliminarSou amigo do Paulo Freitas, que me deu a conhecer o teu blog. Li com atenção e admiração o este magnifico relato desta vossa extraordinária aventura. Adorei e já faço publicidade...
Estão todos de parabéns, continuem!
Um abraço,
Pedro Couto.