Pastelaria

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Ontem morreu a sobrinha da nossa empregada (esta senhora é mais um membro da família do que uma empregada pois a minha mulher já a conhece desde a infância, há mais de 25 anos).
A sobrinha desta senhora tinha apenas 30 anos. Morreu de um problema hepático.



Em Novembro morreu um grande amigo meu dos tempos de infância, daqueles amigos do jogo do pião e do berlinde e da ida às folhas da árvore da amoreira para alimentar os bichos da seda. Já só o via esporadicamente pois a vida profissional tinha-o levado para longe, mas a ligação mantinha-se viva na minha mente e no meu coração. Estava divorciado e morreu em casa sozinho, de um AVC. Deixou um filho da idade do meu mais velho, com sete anos.


Eu próprio já estive próximo de me encontrar com o criador em pelo menos uma ocasião, quando fui hospitalizado aos 10 anos de idade com uma apendicite aguda seguida por uma oclusão intestinal. Foram 30 dias no hospital, oito dos quais a soro, proibido de tomar quaisquer alimentos sólidos, pois tiveram que me retirar uma pequena fracção dos meus sete metros de Intestino Delgado. Nesse mês perdi um terço da minha massa corporal mas ainda estou vivo.



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P.S. Publicação original de 2008. Acrescento em 2023:

Vendo bem, a morte até tem acontecido, com alguma frequência, à minha volta. Desde um dos meus companheiros de brincadeira da preparatória e da minha rua, o Nuno, que morreu com 20 e poucos anos de SIDA, nos anos 80. Passando pelo meu colega de curso o Luis Dias, que faleceu na banheira enquanto estávamos a acabar o curso. Passando pelo filho do Castro Ferreira, outro Nuno, que morreu com 40 anos. Apanhando também o meu Paul "Tater" Lambrechts, meu imrão americano, nos cinquentas. Enfim. É mais triste quando bate à porta de gente tão jovem.



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Ainda não inventaram a cura para a morte e os únicos antídotos que conheço são estes:


FIM

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza…
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

- Mário de Sá Carneiro




Pastelaria


Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

- Mário Cesariny

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