Biologia - 1985/1986

Summary "A idade não tem realidade exceto no mundo físico. A essência de um ser humano é resistente à passagem do tempo. Nossas vidas interiores são eternas,
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"A idade não tem realidade exceto no mundo físico. A essência de um ser humano é resistente à passagem do tempo. Nossas vidas interiores são eternas, o que significa dizer que nossos espíritos permanecem tão jovens e vigorosos como quando estávamos em pleno florescimento."


- Gabriel García Márquez, in O Amor nos Tempos de Cólera




Estive apenas 1 ano letivo no curso de biologia, em 1985/86, mas foi um ano muito marcante. Era muito novo, entrei com 17 anos. Nessa altura da vida cada ano parece conter uma vida inteira. Hoje em dia 10 anos de trabalho passam num ápice. Parecem apenas 1 ano. Essa é uma das razões porque há já 14 anos que me dedico ao Trail Running; porque me deixa memórias fortes para balizar os anos à medida que passam. 

Embora a maioria das minhas memórias do curso de biologia sejam positivas, houve momentos desafiadores, pela negativa, que não posso esquecer.

Entre esses momentos, as aulas do Professor Pedro Rodrigues destacam-se particularmente. Era uma verdadeira luta para manter o foco e o interesse durante as suas aulas. Tive a sorte de a minha madrinha de caloiro me fornecer apontamentos detalhados, que, coincidiam ipsis verbis com o que o Professor Rodrigues debitava nas aulas mais monótonas e soporíferas de toda a minha vida. Eu por vezes tinha aquilo aberto à minha frente e ia debitando, em sussurro, o mesmo discurso para os colegas do lado, mas com uma frase de avanço. Esses momentos de divertimento silencioso ajudavam a suportar a monotonia. 

O estudo detalhado dos artrópodes foi particularmente árduo para mim. Tive de memorizar um vasto número de informações, como a quantidade de segmentos, patas e muitas outras características específicas. Esta tarefa, aparentemente simples, tornou-se uma montanha a escalar, uma verdadeira batalha contra a minha própria capacidade de retenção. 

Na verdade, esses desafios e a imaturidade da minha juventude foram determinantes na minha decisão de mudar de rumo. Optei por seguir para um curso de Engenharia, na esperança de encontrar um caminho académico onde não precisasse decorar tanta informação de forma tão minuciosa. 

O percurso académico é feito de aprendizagens, descobertas, e momentos inesquecíveis. No meu caso, o curso de biologia proporcionou-me memórias ricas e variadas. Lembro-me vivamente da primeira aula com o Professor Fernando Catarino no jardim botânico. A sua paixão pelo assunto e a envolvente natural fizeram daquela aula uma introdução marcante ao mundo da biologia. 

Não posso esquecer as inúmeras ocasiões passadas na cantina, onde as cartas dominavam as mesas. Entre risos, apostas amigáveis e estratégias, os jogos de cartas eram mais do que um simples passatempo, tornando-se momentos de descontração e camaradagem. 

Nos laboratórios de química, admito, a minha seriedade nem sempre estava à altura do esperado. Houve momentos em que quase fui expulso por estar mais focado na diversão e na galhofa do que propriamente nas experiências (o José Marques recorda-se bem do que passou à minha conta, "de como sofri de bullying na oral", por estar no mesmo grupo que eu: "que eu pertencia a um tal grupo de trabalho onde se fazia tudo a rir... menos química"). Para além de que o material utilizado parecia ser tão antigo como o laboratório. E, para ser franco, essa tendência galhofeira repetiu-se durante os meus 6 anos de laboratórios de física no IST. No Técnico tive imensas cadeiras experimentais que também eram um pagode de asneiradas e vandalismo, verdade seja dita. Tive uma cadeira inteira de vácuo em que até cigarros acesos enfiávamos nos aparelhos só para ver o que aconteceria (e não, não fazia parte do protocolo...).

Participei ativamente na vida estudantil, envolvendo-me em iniciativas como as listas para a associação. A semana académica era sempre um ponto alto do ano, repleta de atividades, música, e celebração do espírito académico. 

Os bailes de gala eram eventos únicos. Realizados no Pavilhão de Exposições da Tapada da Ajuda, eram noites elegantes onde dançávamos e convivíamos até ao amanhecer. 

No âmbito académico, um dos projetos mais marcantes foi a observação de golfinhos no estuário do Sado. Todos os dias subíamos a uma das torres inacabadas da Torralta, em Troia, de manhã e ao fim do dia, para contar os golfinhos que entravam e saiam do Sado. Tivemos ainda algumas saídas num barco zebro para ver os golfinhos mais de perto. O Pargana tem uma visão acesa de quando queimou os pezinhos numa fogueira mal apagada e depois eu o carreguei às costas pela praia.

O desporto também fez parte da minha jornada universitária. Jogava no CPOEV (Chuta Para Onde Estás Virado), uma equipa cujo nome já revela o espírito descontraído com que encarávamos os jogos. Contudo, nem tudo foram risos; lembro-me da vez em que parti um pulso e tive de ser levado ao hospital. 

Estes são apenas alguns dos momentos que marcaram a minha passagem pelo curso de biologia. Existem muitos outros episódios e histórias, mas esses ficarão para quando decidir escrever as minhas memórias completas. 

Acho que a maior parte das pessoas que se recordam de mim foi sobretudo devido à aposta que fiz, já nem me recordo bem com quem (penso que foi com o Pargana, no montante de 100 escudos), em que iria às aulas só com metade da barba durante um dia inteiro. Valeu a pena só pela cara do Pedro Rodrigues, quando me sentei mesmo na frente dele.



Meia Barba




Laboratório de Química


Laboratorio Chimico pode ser visitado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC). Foi construído na segunda metade do séc. XIX para a Escola Politécnica de Lisboa. Foi integrado na Faculdade de Ciências em 1911 e foi intensamente utilizado para o ensino e investigação até 1998, altura em que o Departamento de Química mudou em definitivo para a Cidade Universitária. Foi restaurado à traça e abriu ao público em 2007. Está profusamente documentado e inclui uma coleção importante de peças históricas de equipamento, reagentes e instrumentos. Pela sua monumentalidade, funcionalidade e elegância, o Laboratorio Chimico é uma das joias histórico-científicas da Universidade de Lisboa, da cidade e do país. É possivelmente o único sobrevivente dos grandes laboratórios oitocentistas das universidades europeias.




Cartão de Estudante









Golfinhos do Sado



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