Interrail & BEST Summer Courses - 1991-1992

Summary Interrail 1991-1992 & BEST Summer Courses.
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The World is my Oyster



Interrail & BEST Summer Courses - 1991-1992


Em 1991, juntamente com 5 colegas de curso, resolvemos fazer uma viagem pela Europa, levando 2 automóveis: um Renault Clio e um Seat Marbella. Foi uma viagem muito aventureira, cheia de peripécias, mas isso ficará para uma outra crónica. Aqui delinearei apenas os episódios principais.

Na primeira etapa fomos de Lisboa até aos Pirinéus, onde pernoitámos num parque de campismo. O próximo destino foi a Suiça. Depois Hungria, Praga na antiga Checoslováquia, e Eindhoven nos Países Baixos. 





Uma das peripécias de que me recordo, e que vale a pena mencionar, foi quando o Seat se avariou em plena autoestrada na Alemanha. Nós resolvemos abrir o motor. Aquele automóvel ainda era do tempo em que as peças eram todas mecânicas. Pareceu-nos que pudesse ser um problema de ignição. Então abrimos o distribuidor, e limamos um pouco os contactos de metal. Mesmo assim o carro não arrancava. Fechámos o capôt e a malta do Clio foi procurar ajuda. Entretanto eu e o Pedro reparámos que nos tínhamos esquecido de voltar a colocar uma peça, que estava agora em cima do carro! Que belo grupo de estudantes de engenharia...





Após algumas semanas de viagem, os meus colegas deixaram-me em Eindhoven, onde estava inscrito num curso de verão do BEST (inscrevi-me através do Instituto Superior Técnico, onde estudava) na Eindhoven University of Technology:

Eindhoven Summer University 1991, 16-29 August - Eindhoven University of Technology - Intercultural Communication and Management.

BEST - Board of European Students of Technology

"Os objetivos do BEST (Board of European Students of Technology) incluem promover a cooperação internacional entre estudantes de tecnologia, proporcionar oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, e criar uma rede de contactos para futuros engenheiros e cientistas. Além disso, o BEST visa melhorar a educação em engenharia e tecnologia na Europa, bem como promover a compreensão intercultural e a troca de conhecimento entre estudantes."


A estadia de duas semanas em Eindhoven foi muito interessante. Fiquei em casa de um estudante local e participei em várias atividades interessantes. Sempre gostei muito destes intercâmbios culturais.



Gostei tanto que no ano seguinte voltei a inscrever-me, desta vez num curso de verão na Suécia.

Kungliga Tekniska högskolan - KTH Royal Institute of Technology - Estocolmo - 1992 - Space Physics.

E também arranjei maneira de inscrever a minha namorada num curso na Hungria, numa universidade junto ao lago Balaton.

O plano era ir passar uns dias com uns amigos no Algarve e depois ir ter com ela, primeiro à boleia e depois de comboio com o passe Interrail.

Ainda consegui arranjar algumas boleias desde Vila Moura até pouco depois de Madrid. Uma delas numa carrinha comercial, em que o condutor claramente já não dormia há demasiado tempo. Por isso é que ele tinha parado para me dar boleia: o objetivo era eu mantê-lo acordado! Em várias ocasiões quase fomos parar à valeta, não fosse eu reagir a tempo.

A boleia seguinte foi de um piloto de testes de carros de corrida. Contou-me minuciosamente as suas aventuras com a cocaína...

Andar à boleia é uma atividade que raramente é enfadonha. Os condutores que param têm quase sempre algo de fora do vulgar.

Depois de Madrid resolvi apanhar o comboio e começar a etapa de Interrail a partir daí. Apanhei comboio com o objetivo de chegar a Munique, onde tinha um amigo que tinha sido estudante Erasmus no meu curso. Se bem me recordo, o comboio passava por Paris, onde devo ter tido que fazer uma troca.

O comboio para Munique estava completamente cheio, com viajantes a dormirem no chão dos corredores. Aninhei-me o melhor possível entre eles e adormeci, sentindo um cansaço  profundo.

Acordei com um revisor alemão aos berros, provavelmente dizendo que eu não poderia estar ali. Quando olhei em volta, o corredor estava completamente vazio!

A morada do Hans tinha-me sido fornecida por outro colega de curso e infelizmente estava incorreta. Quando cheguei lá e me apercebi disso, dirigi-me ao posto de polícia local. Por milagre eles conseguiram perceber onde seria a verdadeira morada e tiveram a gentileza de me levar lá.

Quando lá cheguei descobri que o Hans se iria casar no dia seguinte! Apesar da visita surpresa, numa má altura, a família do Hans recebeu-me muito bem. Eles moravam numa quinta nos arrebaldes de Munique. Deram-me de jantar, carne de Veado, e arranjaram maneira de eu dormir no celeiro, em cima da palha. Sempre foi uma melhoria relativamente ao chão do comboio!

Depois disso apanhei o comboio para Veszprem na Hungria, junto ao Lago Balaton. Pelo caminho conheci um alemão de leste que só falava alemão e russo. O muro tinha caído ainda muito recentemente. No entanto conseguimo-nos entender por gestos e sons.




Lá, encontrei-me com a Lena, que ainda estava a terminar o curso de verão. Após alguns dias com a malta da universidade, resolvemos ir conhecer Budapeste.

Naquela altura, 1992, a Hungria ainda estava a despertar do seu sono letárgico sob domínio soviético. Nas estradas só se viam 2 tipos de automóveis: os soviéticos Lada ou BMWs topo de gama.

Em Budapeste almoçámos em cantinas de uma outra era.

Parecia de facto ser um país num processo de renascimento.


Tínhamos deixado as mochilas na estação, numa espécie de bengaleiro. Recuperá-las foi uma aventura. Tivemos que lutar com um mar de gente que tentava fazer o mesmo.

Recordo-me que na fronteira com a Checoslováquia não nos foi permitido entrar no país. Tivemos que desembarcar de noite e dormir na estação, ao relento. E no dia seguinte apanhámos o comboio para a Austria. No sentido oposto, da Austria para a Hungria, as famílias hungaras levavam o comboio repleto de eletrodomésticos que tinham ido comprar no mundo capitalista. Fazia lembrar Portugal nos anos 70, quando se iam comprar bens a Andorra.


Depois de algumas peripécias pela Europa fora, chegámos a Amesterdão. Aqui os nossos caminhos separavam-se durante 2 semanas. Eu apanhei o comboio para Estocolmo, onde o curso de verão me esperava, e a Lena ficou pois iria reunir-se com o seu pai, ali mesmo em Amesterdão.

O curso foi muito divertido. Mais uma vez fiquei em casa de um estudante local. Era evidente que a universidade tinha muitos recursos, e a associação de estudantes não destoava. O fim de semana foi passado numa casa no lago, propriedade da associação. Aí tive a minha primeira experiência de como os suecos se divertem. 

Durante a semana são muito certinho e sisudos. Não bebem e comportam-se de forma responsável e algo distante. No fim de semana essa postura vai toda pelo cano. Fazem concursos de bebida, com aguardente e cerveja até caírem para o lado.

A casa no lago tinha uma cave com uma sauna onde elementos de ambos os sexos se sentavam nus e bebiam cerveja diretamente do barril. A seguir corriam desembestados para dentro da água gelada do lago. E o ciclo repetia-se. Nem sei como é que eles aguentam aquilo sem ficarem mal dispostos. Eu consegui fazer um ciclo apenas.


Tendo terminado o curso, no inicio de Setembro (recordo-me que repentinamente começou a ficar frio, como se o verão sueco tivesse chegado ao fim) apanhei o comboio de volta para Amesterdão.

Não cessa de me surpreender como é que naqueles tempos, em que não existiam telemóveis, e as cabines telefónicas tinha preços proibitivos, as pessoas conseguiam marcar um local um dia e uma hora, e de facto encontrarem-se.

Eu e a Lena ainda passámos uns dias em Amesterdão.

Entretanto o nosso bilhete de interrail já tinha passado o prazo (1 mês). O plano era voltar à boleia.

Assim fizemos, ao longo de 4 dias, até chegar a Lisboa.

Do lado de lá dos Pirinéus é relativamente fácil arranjar boleia (pelo menos nos anos noventa era).

Algumas boleias marcantes foram com o camionista que nos mostrou polaroids da namorada nua; a testemunha de jeova que nos tentou converter; o casal que nos arranjou lugar numa tenda no parque de campismo perto de Bordéus. As duas alemãs que viajavam num velhinho e muito lento citroen 2 cavalos, e nos deram boleia para atravessarmos os Pirinéus (e mais tarde nos foram visitar a Lisboa); o último camionista, que nos levou de Madrid até à fronteira de Elvas e ainda nos arranjou boleia com outro camionista até Lisboa.

Pelo caminho, em Paris dormimos num vão de escadas ao relento, e também na estação ferroviária; por detrás de uma bomba de gasolina nos arredores de Madrid; e noutros locais improváveis.

Naquela época a internet ainda não tinha explodido para fora dos mundos militar e académico. Havia ainda uma enorme dose de improviso e aventura.

Enfim, este tipo de aventuras deixa uma marca muito forte na memória. Fico muito feliz por saber que ainda pude usufruir disto numa época diferente da atual e que não voltará mais.







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