Summary
an adventure like this gives me the strenght for at least another year. It helps me to overcome the difficulties of daily life.
Views
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
- Álvaro de Campos
Muitos anos depois, diante da Ceifeira final, eu haverei de recordar aquela tarde remota em que o pai me levou a conhecer a montanha.
(parafraseado sem qualquer vergonha do sublime Gabriel Garcia Márquez)
No dia 13 de Julho de 2012, teve início a minha primeira aventura de 100 milhas nas montanhas, faz agora 10 anos.
Julgo que a efeméride merece um post neste meu blog.
Eis aqui a lista das provas terminadas, das tentadas, das insistidas, das interrompidas e dos anos de recobro (terminadas contam 8, uma vez que o EstrelaAçor foi contabilizado tanto pela organização como pela ITRA, uma vezque a categoria das 100 milhas vai dos 130K aos 190K):
2012: Ehunmilak, 168 km - 11.000 mD+, no País Basco.
2020: Estrelaçor, 180 km - 10.000 mD+. na Serra da Estrela (interrompida aos 142K devido a tempestade, mas apesar disso fui contabilizado com sendo finisher, tanto que o resultado aparece nos rankings da ITRA).
2021: TransPenedaGerês, 165 km - 8.500 mD+, na Serra da Peneda Gerês.
2022: ?
Categorias da ITRA - International Trail Running Association:
É desejo meu que esta lista continue a crescer até bem dentro da década de 2040.
Legenda: 8 provas de 100 Milhas terminadas com sucesso.
"Façamos qualquer coisa que o mundo diga de nós que fomos loucos"
– ordem de Filipe II ao arquiteto do Escorial
Correr 100 milhas é absurdo? Eis aqui o verdadeiro absurdo:
“Em
todos os dias de uma vida sem brilho, o tempo nos leva. Mas sempre
chega a hora em que temos de levá-lo. Vivemos no futuro: ‘amanhã’, ‘mais
tarde’, ‘quando você conseguir uma posição’, ‘com o tempo vai
entender’. Estas inconsequências são admiráveis, porque afinal trata-se
de morrer. Chega o dia em que o homem constata ou diz que tem trinta
anos. […] Pertence ao tempo e reconhece seu pior inimigo nesse horror
que o invade. O amanhã, ele ansiava o amanhã, quando tudo em si deveria
rejeitá-lo. Essa revolta da carne é o absurdo”
- Camus, O Absurdo
Porque corro?
Está
tudo na imaginação. Nada disto é real. Fazer 170 km na montanha não
acrescenta nada ao meu destino. Não altera a ordem das coisas. Não gero
novos universos, não salvo a humanidade, não alcanço a imortalidade.
Continuo imerso na Condição Humana. O Cosmos continua a ser um local
improvável, sem justificação nem apelo. As partículas e os campos de
força continuam a saltar do vácuo e interagir porque sim. As espécies
digladiam-se porque está na sua natureza. Este planeta caminha para o
oblívio. A minha, a nossa, existência não é mais do que um efémero
piscar de olhos num espaço-tempo vazio.
Não há redenção, não há salvação.
No
entanto uma aventura destas dá-me alento para pelo menos mais um ano.
Para conseguir ultrapassar as dificuldades comezinhas do dia-a-dia. As
pequenas irritações, o tédio dos gestos repetitivos. O inexorável
caminho em direção à decadência torna-se mais suave. Os momentos mais
ricos, coloridos e vívidos.
Enquanto
cá estiver vou travando a luta inglória e os meus átomos, quando se
dispersarem ao vento, eles ao menos hão-de saber que vivi. Terão a minha
marca, depois de já terem tido a de Gilgamesh, Homero, Alexandre,
Aníbal Barca, Júlio César, Erik o Vermelho, Rolando, Zheng He, Ibn
Battuta, Magalhães, Vasco da Gama, Livingstone, Neil Armstrong.
Serei um pequeno risco à escala de Plank na fábrica do espaço-tempo.
As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
- Léon Tolstoi
As provas fáceis parecem-se todas; as difíceis são difíceis cada uma à sua maneira.
Com o TPG completo sete provas com mais de 160 km e mais de 7.000 mD+.
Cada
uma delas como uma amante diferente, que se entranha na pele. Não é por
acaso que Montanha é um substantivo do género feminino. Não se
equivoquem, elas não estão lá para ser conquistadas, ou dominadas, ou
outro qualquer verbo encharcado em testosterona. Não. Todas elas têm a
última palavra e cada uma tem que ser abordada na sua especificidade. Há
montanhas mais suaves, outras mais agrestes e temperamentais, e outras
ainda esquivas e arredias. Mas com cada uma necessitamos saber obter a
sua concordância para descobrirmos seus segredos.
Vou assumir uma liberdade literária ao tomar a parte pelo todo, chamando a montanha pelo nome da prova.
A primeira amante
era Basca. Os Bascos são uma raça orgulhosa e independente, que sempre
resistiu a ser assimilada por outras culturas. É necessário mostrar-lhes
a nossa valia e bravura a fim de conseguirmos ganhar o seu respeito. No
entanto, nunca conseguiremos que se rendam. A vida com eles será sempre
uma eterna luta, muito recompensadora, e muito desgastante.
As 100 milhas do Ehunmilak foram a minha estreia na distância. Em 2012 escrevi o seguinte no meu blog:
Psicose: «O
termo psicose é definido como a incapacidade de distinguir entre a
experiência subjectiva e a realidade externa, ou seja, existe uma perda
de contacto com a realidade.»
O enorme, gargântuo, demolidor desafio que foi para mim o Ehunmilak pode ser definido como a anti-psicose.
Processa-se
em 3 estágios em que se vão removendo as camadas externas da psique até
restar apenas o eu nu e primevo, imerso numa realidade pre-uterina, uno
com o Universo ("no princípio era o Verbo").
Primeiro a Montanha
destrói o corpo, fibra por fibra, até não sobrar mais nada para além da
mente para nos levar adiante. Seguidamente destrói a própria mente,
através do cansaço e da privação do sono, que impedem a concentração e
nos dificultam os passos. Por fim sobra apenas a vontade pura para nos
levar até ao fim.
Cinco dias volvidos sobre o término da prova,
ainda passo horas meditando sobre o que sucedeu na Montanha. Tenho
recordações muito mais vivas daquilo que se passou no segundo dia do que
ocorreu no primeiro (a falta de sono prejudica a formação de memórias).
Ainda tenho dores e abrasões em vários pontos do corpo e ainda tenho
dificuldade em sentir o dedo grande do pé esquerdo. Ainda sinto a
astenia e o sono profundo que se abateram sobre mim nos dias posteriores
à prova.
Contudo, sinto também a calma reconfortante proporcionada por aquele contacto prolongado com a vontade no seu estado mais puro.
Assim
são certas relações humanas. Terminam deixando-nos feridas profundas,
mas simultaneamente levam-nos a lugares dentro de nós próprios onde
nunca iríamos sozinhos. O que permanece é um enorme sentimento de
gratidão por termos feito a viagem.
A segunda amante
era Francesa, nascida nos Pirenéus. Os franceses têm uma história e
culturas muito ricas, o que lhes dá um sentimento de superioridade e
distanciamento que por vezes raia a sobranceria e arrogância. No
entanto, também sabem ser meigos e gentis.
As 100 milhas do Grand Raid des Pyrenées
foram a minha segunda aventura na distância. O perfil da prova é
altaneiro, como os franceses. É composto por 4 subidas com mais de 1.700
mD+ cada uma, e de uma interminável descida, com 2.400 mD-. Como subir e
descer estas rampas brutais?
Em 2013, escrevi o seguinte no meu blog:
Como
se ultrapassa a adversidade? Onde vamos buscar as forças para persistir
quando todas as fibras do nosso corpo nos ordenam que é altura de
desistir?
Dizem que a fadiga é uma ficção que o cérebro engendra
para ordenar ao corpo que é altura de parar, antes que algo irreparável o
pare definitivamente.
Talvez a realidade seja toda ela uma
ficção criada pela nossa mente. Ou então é um enredo que o nosso cérebro
constrói, dinâmica e interactivamente, para se conseguir orientar num
mundo complexo e desprovido de um propósito independente da nossa
vontade.
Há investigadores que dizem que temos um cérebro
“social” composto por módulos, com diferentes funções. A comandar esses
módulos (ou ser comandado por eles) poderá, ou não, existir uma
identidade denominada o “eu”, o “self”, a “consciência”, ou o que lhe
queiramos chamar.
A razão porque construímos percursos e
prosseguimos objectivos é porque necessitamos de um ou vários propósitos
que nos orientem nesta vida. Como não somos seres simples, não é fácil
definir um propósito claro.
Talvez seja o nosso histórico
evolutivo que nos atira para o fio da navalha. Talvez sejamos apenas
loucos e isso esteja inscrito na nossa matriz genética. O primata que
enlouqueceu.
As
provas de Ultra-Trail têm características únicas que as diferenciam das
corridas de estrada. A estratégia é muito mais complexa, pois é
necessário avaliar um número muito maior de variáveis, tais como o
percurso, as condições ambientais, o equipamento necessário
(impermeável, bastões, etc), a alimentação, o ritmo, o descanso, etc.
Assim
são as relações humanas. É necessário nutrir e equilibrar muitos
fatores diferentes para que a relação cresça e vingue. Um único ponto
fraco pode deitar tudo a perder.
A terceira amante
era Catalã. Residente em Puigcerdà, Pirinéus Espanhois. Os catalães são
industriosos, fortes, apaixonados, desafiadores, sociáveis.
"A
língua catalã pertence ao ramo itálico da família indo-europeia e é a
maior língua minoritária na Europa Ocidental. Faz parte da rica cultura
Ibero-gala, que inclui o provençal. Tem muitas características de
espanhol e francês."
Os 214 Km do VCUF - Volta Cerdanya UltraFons,
foram a minha terceira grande aventura, e a maior distância que até
hoje cobri em prova. Foi também uma das provas mais sociais que fiz. O
espírito de grupo entre os portugueses foi fantástico, talvez porque já
nos conhecêssemos todos bem, e também porque a prova teve um número
reduzido de participantes.
Foi ainda a prova que menos me custou a fazer, apesar da distância.
Os
primeiros 44 quilómetros são como uma relação amorosa no início: sem
grandes obstáculos, tudo avança a bom ritmo. Após esse suave percurso
inicial, começam as verdadeiras dificuldades, e entra-se num carrocel de
emoções que irão durar até ao fim. Isso se tivermos sorte, é claro.
Em 2014 escrevi o seguinte no meu blog:
Existe uma multiplicidade de fatores que podem explicar o sucesso no Ultra Trail.
De
acordo com os manuais, a performance desportiva pode-se explicar
decompondo-a em 3 factores fundamentais: o VO2max, ou seja a ”potência
do nosso motor” (a capacidade de transportar oxigénio até às células
musculares), multiplicado pela nossa resistência ou endurance, que é a
capacidade de mantermos um ritmo constante a uma percentagem elevada do
VO2max, e dividido pelo custo energético da nossa locomoção (relacionado
com a nossa técnica de corrida).
Para cada um dos 3 factores desta equação, existem vários contributos.
O VO2max pode ser melhorado, com trabalho duro de intensidade, mas depende também bastante da genética e da idade do atleta.
A
endurance depende da nossa resistência à fadiga neuro-muscular,
articular, da capacidade de ingerir alimento líquido e sólido durante
longos períodos de esforço continuado, da resistência a amplitudes
meteorológicas, ao esforço em altitude, etc, mas sobretudo endurance
mental.
O
custo energético está diretamente relacionado com a nossa técnica de
corrida: a amplitude da passada, a postura na corrida, o deslocamento
vertical e horizontal, o peso, etc.
No
ultra Trail existe um trade-off entre estes dois últimos fatores. Para
poupar as articulações e o sistema musculo-esquelético, o individuo
tende a adotar uma passada menos eficiente mas mais protetora.
Em conclusão, a performance pode ser otimizada regulando os 3 fatores.
Mas quanto a mim, o mental continua a ser o fator mais determinante quando se percorre distâncias com 3 dígitos.
Eu
chamar-lhe-ia a capacidade de mantermos um diálogo constante connosco
próprios. Durante a corrida vou sempre alerta aos sinais do corpo e da
mente e vou criando uma narrativa da prova. É como se tivesse uma banda
sonora em fundo e um fluxo permanente de imagens a cruzarem o cérebro.
Alimento a mente com as boas experiências que tive noutras provas e
também noutras áreas de minha vida, como a familiar, os amigos, o
associativismo, o trabalho. Uso todos esses ingredientes para tecer uma
história que me embala e me faz avançar etapa a etapa.
Também
ajuda deixarmo-nos perder no tempo. Uma das razões principais porque é
para mim mais fácil fazer muitos kms na Montanha do que em estrada é
precisamente essa: o tempo parece que que se dissolve e a certa altura
nem sabemos bem há quantas horas estamos em prova. DEve ser também essa
uma das razões pelas quais por vezes nos sentimos renascer. É como se o
corpo e a mente fizessem um reset e tudo começasse de novo.
A quarta amante voltou a ser Francesa, mas desta feita nascida nos Alpes, em Chamonix.
Até hoje nenhuma me colocou um desafio tão grande, me marcou tanto, e causou tanta dor, como esta paixão.
Dizem
que há montanhas mais difíceis que outras, amantes mais exigentes. É
possível, mas quanto a mim isso é pouco significativo. O que é relevante
é a nossa relação com a montanha. Temos que saber escutar a montanha,
ouvi-la com atenção. Não podemos querer dobrá-la à nossa vontade, porque
ela irá rejeitar-nos. É necessária uma enorme dose de inteligência, na
mais vasta aceção da palavra: racional e emocional.
Esta seria a minha 4ª prova de 100 milhas nos anteriores 4 anos.
Em 2015 escrevi o seguinte no meu blog:
Em
todas as provas anteriores não fui munido de nenhum objetivo em
especial para além do fundamental que é divertir-me em trilhos que me
deixem imagens inolvidáveis e percorrer uma viagem interior que me
enriqueça enquanto pessoa. E se possível terminar a prova.
Desta
vez tinha uma ambição um pouco mais prosaica: estava determinado a
baixar de uma barreira horária, a das 32 horas em prova. Assumo
plenamente esse desiderato.
Em
2012 tinha completado os 168 km do Ehunmilak em 39:42 e em 2013 tinha
completado os 160 km do GRP em 36:42. Ambas as provas tinham sido
concluídas após ultrapassar grandes dificuldades, e em ambas elas eu
tinha sentido que o meu rendimento poderia ter sido melhor.
Por duas vezes já tinha concorrido a uma vaga no UTMB apenas para ver goradas as minhas expetativas em 2 sorteios madrastos.
Foram
3 anos a alimentar um sonho, a vê-lo crescer, engrandecer-se, começar a
caminhar, desde os primeiros hesitantes passos, passando por um trote
suave, a uma marcha forte, até ao galope furioso dos últimos meses de
preparação para o desafio de uma vida.
O
UTMB não é seguramente a prova mais difícil do panorama mundial, nem
sequer aquela com maior grau de dificuldade que eu já fiz. Já as fiz
mais técnicas (GRP), em piores condições meteorológicas (Ehunmilak) e
mais compridas (VCUF).
No
entanto esta prova é única. Não há nenhuma com a envolvência que esta
gera. Chamonix é uma semana de festa. Vive-se, respira-se Trail Running.
É a mais emblemática. São os Jogos Olímpicos do Trail. Uma espécie de
encontro Tribal ao nível planetário. É o rio por onde sobem os salmões
para chegar à nascente. É o cemitério onde os elefantes vêm morrer.
(…)
Levado
pela arrogância da juventude, completei os primeiros 136 Km da prova em
apenas 26 horas. Dá uma média de 5,13 Km/h, o que é muito bom. No
entanto, repentinamente sou atingido por uma parede de rocha.
(…)
A
partir daqui iria ser um caminho solitário aquele que eu iria
percorrer, em que teria que atravessar sozinho a segunda noite, e me
veria confrontado com os meus piores fantasmas.
Moisés abriu o Mar Vermelho com o bordão e a palavra de Deus.
Eu irei ter que abrir a noite a bordoadas de raiva e desespero. Mas faltam-me as barbas do profeta.
Estou em prova há exatamente 26:26:26.
O Número da Besta escondido entre os 3 Cisnes...
Já percorri 136 km, com 8.000 m D+ / 7.150 m D-. Resta pouco!!! ...iludo-me eu…
(…)
A descida vai ser bem pior.
Passo
por companheiros sentados à beira do caminho com o olhar perdido no
vazio. Pergunto-lhes se estão bem, a que anuem levemente com a cabeça.
Serão estes as sentinelas que ladeiam o Estige, à medida que a barca de Caronte me arrasta para o fundo?
«Da descida ao Hades ninguém volta ou, pelo menos, não volta aquele que foi.»
Estará
Tirésias à minha espera para me revelar a profecia? Alcançarei a
tranquilidade do meu reino, mas a viagem será particularmente dura?
Apenas conseguirei retornar se refrear a minha cobiça?
Fala comigo Tirésias! Revela-me o meu destino!
O
meu destino é descer, descer, descer… tenho um rendez-vous com uma
povoação francesa chamada Vallorcine, a 1.270 m de altitude.
Demoro
quase duas horas a descer. Mais precisamente, uma hora e quarenta e
sete minutos. O mesmo que tinha demorado a subir e a exatamente à mesma
velocidade: 2,8 km/h!
Ou seja, estou cada vez mais perro, cada vez mais trôpego, cada vez mais irremediavelmente empenado!
Entro
na tenda de Vallorcine às 01:55 da noite. Venho zonzo. Necessito de me
sentar rapidamente. Faço-o na primeira mesa que encontro. Fico alguns
minutos a olhar o chão até conseguir recuperar o sangue frio.
Estou morto. Ou assim me sinto. Tenho que ressuscitar, tenho que ressuscitar!
(…)
Depois desta prova, não voltei a ser o mesmo durante alguns anos. Deixou-me de rastos, exausto, tanto física como mentalmente.
Esta
foi uma amante sem história. Um affair de verão, que não deixa grandes
recordações, exceto uma agradável e superficial sensação de um pedaço de
tempo bem passado. Foi uma prova suave, a transição das amantes
violentas e impetuosas do passado para o que viria no futuro.
A sexta amante foi Andorrenha.
Objetivamente
esta última foi a mais difícil de todas. Subjetivamente, tudo depende
de nós, ou não fora esta afirmação, ela mesma uma perfeita tautologia.
Em
2017 fiz a minha primeira tentativa. O período de 12 meses entre Julho
de 2017 e Julho de 2018 foi o meu annus horribilis. Na linha de partida
sabia que não me tinha preparado o suficiente. Mas tive esperança que os
longos anos de prática pudessem produzir um milagre. E de certa forma
produziram. Com treino mínimo e excesso de peso, mesmo assim logrei
atingir o abastecimento do quilómetro 87, em Coma-Bella.
Não tinha a cabeça na prova.
Tal
como uma relação em que não estamos empenhados nem envolvidos, por
estarmos demasiado centrados nos nossos próprios problemas, reais ou
imaginários, eventualmente a outra pessoa se farta, também a montanha
não perdoa a falta de diligência.
Depois
desta derrota amarga, fiquei praticamente um ano inteiro sem treinar.
Apenas mantive alguns treinos esporádicos em estrada, mas de baixíssima
intensidade e volume, e não voltei a competir.
Engordei
imensamente. Bebia demasiado. Passei de um peso normal de 70 Kg, para
85 Kg. Entretanto o meu pai faleceu, divorciei-me, mudei de casa.
"Erros meus, má Fortuna, Amor ardente Em minha perdição se conjuraram; Os erros e a Fortuna sobejaram, Que para mim bastava Amor somente." - Luís de Camões
Parei
completamente de correr. Só em Julho de 2018 é que voltei a ter vontade
de ir para a estrada, calcorrear o alcatrão. Foi um renascer lento. O
peso baixou para 80 kg mas aí permaneceu estagnado. Não conseguia a
velocidade de antigamente. Maratonas abaixo das 3 horas pareciam uma
miragem distante.
Lentamente
fui-me reerguendo das cinzas. Recomecei a participar em provas de
estrada e a ter resultados longe dos registos do passado, mas
perfeitamente razoáveis.
Em
Novembro de 2018 senti-me confiante o suficiente para arriscar tentar
novamente uma prova de 100 milhas. E claro que a escolha teria que
recair novamente sobre aquela que tinha ficado a meio.
Eu
só não termino aquilo que deixa de fazer sentido. E as duas coisas que
maior sentido me têm feito ao longo da vida, são a família (e amigos), e
a corrida na montanha.
Assim, em Julho de 2019 lá alinhei novamente na linha de partida.
Apesar
da enorme dureza da prova, acabei por não a sentir dessa forma.
Percorri o caminho com muita calma e paciência. Perfeitamente integrado
no meio que me envolvia. E isso faz toda a diferença.
Tal como comentei no blog:
Como
diz o Yuval Harari no "Sapiens", acho que a vida de um
caçador-recoletor era mais interessante do que a nossa. Era mais
perigosa e tinha mais dor, doença, trauma, etc, mas a isso estamos nós
adaptados por milénios de evolução. Aquilo a que não estamos adaptados é
à rotina de um trabalho de escritório. É uma fraca aproximação, eu sei,
mas por mais dor que tenha numa corrida de 170 km, sinto-me muitíssimo
mais feliz, e essa felicidade perdura durante algum tempo.
O espírito com que encarei esta prova foi mais ou menos este, que está espelhado neste trecho do meu blog:
Agora entramos no Vale de Madriu (puta que o pariu... como dizia um amigo).
Aliás,
não resisto a transcrever parte de um post de um colega atleta, pois
achei-lhe imensa graça:
"Mitic AUTV 115k 9700D+ com passagem por
ordenha, cortinado, bordas do prato, portas da sanfona, colo da boa
morte, colada com perafita, Boné da piça, vale Madriu puta q o pariu,
pico de comadrosa , marçaneta e outros terrinhas q não lembra ao diabo.
Subir, descer, rir e chorar, transpiração e muita ranhoca. A ver se
conseguiremos almoçar em Ordino no próximo Domingo!"
- Luís Álvaro
Chego a Refugi de Sorteny às 13h24, após 54h24 de prova.
Está imenso calor.
Como fruta e refresco-me.
10 minutos depois de chegar, estou sentado dentro da cabana, a
preparar-me para prosseguir, quando assoma à porta a cara sorridente da
Sandra!
Não estava nada à espera de a ver por aqui. Contava que me fossem receber mais abaixo, mas no último abastecimento não.
Foi uma enorme alegria! E logo a alegria duplicou quando apareceu também
o Rui. Perguntaram-me como estava, se precisava de algo, e disseram-me
que eu era o seu herói.
Se eles não tivessem aparecido, possivelmente eu faria os últimos 12 km a
andar. Mas o ânimo que me incutiram fez com que conseguisse um trote
razoável.
Fui-os revendo em mais pontos adiante, juntamente com a Carla, o
António, o Jorge, a Elsa, o Gonçalo. Animaram imenso este último troço
E pronto, terminei os 170 km & 13.500 mD+ de Ronda dels Cims em
57:00:34 (3 km/h), ladeado pelos meus amigos e companheiro de equipa do
RUN 4 FUN.
Há lá maior felicidade?
A sétima amante foi Beirã.
A
Serra da Estrela é a minha zona favorita para treinar. Adoro pernoitar
no parque de campismo do Eco Resort do Vale do Rossim, um dos locais
mais belos do mundo.
Fazer o quilómetro vertical desde a Loriga até à Torre e depois descer até ao Alvoco é um treino fantástico.
No entanto é uma Serra muito temperamental. Tão depressa alegre e contente como logo furiosa e irascível.
Até
às 16 horas do segundo dia tudo foi decorrendo com normalidade. Estava
confortavelmente dentro do plano que tinha gizado para completar a prova
em 42 horas. Iniciava a subida do Alvoco para a Torre e tudo estava
dentro da normalidade.
Começo
a subida, ainda com bastante energia de reserva. à medida que vou
subindo o tempo vai-se alterando significativamente. Conforme descrevi
na minha crónica:
«Inicio
a subida monstra. Serão 1.270 mD+ em apenas 7 kms. Surpreendentemente
sinto-me bem a subir. Vou em bom ritmo. Sou acalentado pela certeza de
que se chegar à Torre então alcançarei garantidamente a meta das
Penhas.
Cruzo-me com vários atletas. Dois passam por mim mais
ligeiros. Alcanço um grupo de 5. Penso que apenas dois deles estão em
prova. Os outros são uma espécie de guarda de honra.
A chuva e o
frio começam a fustigar-nos à séria. Agora principio mesmo a sentir-me
enregelado. O que vale é que estou preparado para tudo. Desde a partida
que carrego comigo, na mochila, uma segunda camada térmica de mangas
compridas, calças impermeáveis, dois pares de luvas com dedos, um
segundo buff para o pescoço, um gorro quente, a manta de sobrevivência,
uma velinha e isqueiro, ligadura elástica para garantir mobilidade em
caso de sofrer alguma entorse, um pequeno canivete (com as mãos
enregeladas torna-se difícil manipular objetos), segundo frontal com
pilhas de substituição, para o caso do primeiro sofrer uma avaria. E
alimento de reserva. No País Basco ia entrando em hipotermia e o que me
valeu foi ingerir várias barras e géis energéticos de uma penada.
(...)
Assim
que chegamos ao planalto anoitece. Está nevoeiro cerrado. Não se vê um
palmo à frente do nariz. Quem não tiver track no relógio está tramado.
Vou atrás do grupinho de 5, e eles vão chamando por mim (fico-lhes
muito grato). Cruzamo-nos com atletas perdidos, feitos baratas tontas.
Subitamente um GNR assoma junto a nós. Guia-nos até ao PAC da Torre.
Entramos
completamente encharcados. Alguns atletas estão cobertos por mantas.
Contam-nos que houve dois que entraram em hipotermia.
De acordo com o meu Garmin, são 19h11. 150 kms, com 7.100 m D+, em 31h48.
A prova acabou. É um anti-climax mesmo estranho.»
De acordo com a Associação O Mundo Da Corrida e com a ITRA, a prova é válida. Dos 20 atletas que ficaram neste ponto, fui o 19º a chegar:
A oitava amante foi Minhota.
If we are victorious in one more battle with the Romans, we shall be utterly ruined.
— Plutarch
"A
pyrrhic victory is a victory that comes at a great cost, perhaps
making the ordeal to win not worth it. It relates to Pyrrhus, a king of
Epirus who defeated the Romans in 279 BC but lost many of his troops."
«Confesso
que assim que acabei a prova não só tinha perdido por completo a
vontade de me meter em algo do género nos tempos próximos, como também
não tinha qualquer vontade de descrever aquilo porque tinha passado.
Foi uma prova extremamente sofrida, desde o início.
Os
dois anos de 2020 e 2021 foram anos completamente fora de vulgar, com a
pandemia do Covid-19, o excesso de trabalho e os treinos extremamente
irregulares.
(...)
Bem,
para a história ficou a medalha e a inscrição do meu nome no "Mural
dos Conquistadores", mas sobretudo o momento inolvidável do cruzar da
meta ao nascer do sol. A dor passa mas essas memórias ficam para
avida.»
2022
também tem sido um ano muito intenso, com todo o trabalho, sobretudo na
ocasião do ataque informático à Vodafone, e adicionalmente com as cerca
de 3 horas diárias de curso em desenvolvimento de software, que
terminaram apenas no fim do mês de Junho.
Resta
metade do ano para iniciar uma preparação progressiva e sustentada para
que no próximo ano de 2023 esteja de novo pronto para me meter nestas
aventuras XL.
No calendário nacional tenho estas opções:
Ou então posso fazer algo completamente diferente como 100 milhas na Patagónia:
O que eu sei é que enquanto não me sentir preparado não volto a inscrever-me numa prova com esta exigência.
Ainda
quero andar muitos e bons anos nesta modalidade, ainda tenho muito
tempo pela frente, e portanto desejo fazer as coisas com pés e cabeça
para que não volte a ficar um ano praticamente parado como aconteceu
entre Julho de 2021 e Julho deste ano.
Já tenho muita experiência no Ultra Trail, com 46 Ultras terminadas:
Portanto
já sei o que devo fazer. Basta manter a cabeça fria e delinear um plano
inteligente. E claro, ter alguma sorte para não sofrer nenhuma lesão
incapacitante.
Eventualmente hei-de conseguir voltar a ponderar uma aventura ainda mais extrema, como o Tor Des Géants.
Grande Luís... E é um belo post neste teu interessante blog tanto na vertente lúdica como do ser que és.
És uma espécie de Arquimedes, filósofo, engenheiro.... Mestre inventor e utilizador da alavanca que multiplica a força para levantar algo.
Fico muito contente de te sentir a voltar a ter ideias de voltar aos montes.
Independentemente de teres ficado mais tempo do que pudesses prever sem um ires a jogo, bem vistas as coisas, acho que para ti é só mais um momento. Tal como na Montanha existe a tal multiplicidade de fatores que é preciso gerir, na outra vida existe ultiplicidade de fatores que é preciso gerir para ir em pleno para a Montanha. E para além disso foram tempos fáceis e com condições para treinar como deve ser.
E se te conheço um pouco, vamos ver-te aí a palminhar as "pequenas" ultras para ires ganhando ganhando condição até a próxima mega aventura.
Também gostava deizer que estes tipo de post nos teu blog, "públicos", que na sua essência são escritos para ti próprio e para a tua relação com o oblívio, mas que podem ajudar bastante a entender o que é o desporto do Trail. Principalmente o Trail nestas distâncias absurdas.
E tu sabes que foi por te ler muitas vezes que me atrevi um dia a cumprir uma aventura com essa distância das 100 milhas. Foi uma aventura cheia de dificuldades e foi do cralhes. Agradeço-te por isso.
Muito obrigado pelas tuas palavras sinceras e poéticas.
Tens sido o meu grande companheiro de treinos e forte fonte de motivação, já há alguns tempos, sobretudo na fase difícil que têm sido os anos mais recentes. Nestas alturas sobressaem os bons amigos.
Fico feliz em saber que te posso ter dado alguma vontade de cumprir uma prova de 100 milhas, mas o sucesso é inteiramente teu. Sobretudo pela forma determinada como encaraste esse objetivo e não te deixaste esmorecer pelas duas primeiras tentativas interrompidas por forças alheias à tua vontade. Os verdadeiros campeões medem-se pela forma como não deixam que os obstáculos de interponham entre eles e os seus sonhos.
E também pelo planeamento rigoroso e pelo estudo e vontade de saber sempre mais. És um exemplo também nisso.
E sobretudo pela tua dimensão enquanto pessoa, sempre pronto a ajudar o próximo e a contribuir para que as pessoas tenham boas experiências e um meio onde se possam desenvolver e ir mais longe.
As saudades que tinha de ler e reler as tuas crónicas! Obrigado pelo que tens dado e por continuares a ser uma referência para mim. Acredito que durante muitos anos vais ser tu a escolher o teu destino. Forte abraço do Quénia.
Grande Jorge! Muito obrigado pelas tuas palavras, mas sobretudo pela tua companhia e amizade. Temos estado juntos em várias destas aventuras e ainda estaremos em muitas mais por muitos anos. Força para ti nessas aventuras do desporto e da vida. Forte abraço amigo!
Nota prévia: este post foi publicado em Agosto de 2019. A informação que consta aqui poderá estar datada. Seja como for, informação atualizada poderá ser encontrada aqui: Toda a informação poderá ser encontrada nos seguintes links: ITRA Web Page ITRA Facebook World Trail Series
Esta crónica esteve quase para se chamar “És tu e o tralho!” mas como esse título não reflete o verdadeiro espírito do AXtrail preferi deixar de lado o trocadilho fácil e escrever algo um pouco mais sério. Aldeias do Xisto Na 6ª feira, dia 17/10/2014, saí de casa, levando a família, por volta das 18h15m. A viagem de 186 km até Castanheira de Pêra estava prevista demorar cerca de 1h45m e assim foi, sem qualquer incidente digno de registo. Fomos até ao secretariado, na praça da Notabilidade, levantar o Dorsal nº 52. A Go-Outdoor, entidade organizadora do evento, presenteou-nos com uma interessante surpresa: uma pequena árvore das espécies autóctones para plantarmos em local à nossa escolha. Depois aguardámos que a simpática família Ricardo, agradabilíssima companhia de diversas destas aventuras, viesse ter connosco para partilharmos companhia num jantar em restaurante local. Jantámos a horas um pouco tardias, um bitoque com batata frita, que no in
Bénéteau First 24, La Licorne Bénéteau First 24, La Licorne. Horta, Faial A sanidade mental é uma defesa orquestrada pela mente para sobreviver à condição humana Não me recordo ao certo do ano, mas terá sido por volta do verão quente de 1999. Desde 1997 que eu estava inscrito nas aulas de natação na recém-inaugurada Piscina do Estádio Universitário de Lisboa. Cedo tinha confidenciado à minha professora, a Paula Bettencourt, que um sonho antigo meu seria atravessar o mar num veleiro. Uma manhã igual a qualquer outra, vindo do nada, a Paula lança-me um desafio: "Tenho uns amigos que vão partir de veleiro amanhã de madrugada de Vila Moura em direção à ilha do Faial, nos Açores. Falta-lhes um elemento para completarem a tripulação. Queres ir?" Não precisei de mais de 2 segundos para decidir que uma oportunidade destas surge apenas uma vez na vida. Às 15h já estava a caminho do Algarve. Ao fim da tarde chegámos e fui apresentado aos restantes
AXTrail series 2012 - Circuito de trail running nas Aldeias do Xisto #01 SERIE - Foz de Alge / Ferraria de São João (04-03-2012) Percurso Altimetria Foi com muito entusiasmo que, eu a Lena e os miúdos, nos dirigimos para Ferraria de S. João, no sábado dia 3 de Março. Iríamos mais uma vez participar na 1ª etapa do Axtrail, que tão boas recordações nos tinha deixado no ano anterior . Aldeia de Xisto Este ano alugámos um quarto muito agradável nas Casas do Vale do Ninho, geridas por um casal muito simpático, o Pedro e a Sofia, também ele um experiente aficionado destas provas de montanha. Apesar dos primeiros dois meses do ano terem sido de tempo completamente seco, a meteorologia anunciava chuva para o fim-de-semana, e, assim que chegámos a Ferraria, concretizou-se a previsão: chuva em abundância, nevoeiro cerrado e tempo fresco, a rondar os 12ºC. Mas isso não nos desanimou, e após um pequeno de período de descanso junto à la
- What’s your secret? - I am just gonna keep running… Cliff Young I will write this post in English. Actually, I will mostly just re-print information from several sources, but I will show all references, in order not to incur in plagiarism. This is the story of an ordinary man who performs extraordinary feats. His name was Cliff Young, and he was the least likely hero that any Nation could come up with. "Albert Ernest Clifford "Cliff" Young , OAM (8 February 1922 [1] – 2 November 2003 [2] ) was an Australian potato farmer [2] and athlete from Beech Forest, Victoria . Born the eldest son and the third of seven children of Mary and Albert Ernest Young on 8 February 1922, Albert Ernest Clifford Young grew up on a farm in Beech Forest in southwestern Victoria. [1] " https://en.wikipedia.org/wiki/Cliff_Young_(athlete) " Cliff Young’s story is unique. While most athletes achieve succ
Link para a segunda etapa "Não esqueço as palavras de Herculano a propósito de Garrett que ele repetiu dúzias de ocasiões ao longo dos anos: – Por meia dúzia de moedas o Garrett é capaz de todas as porcarias, menos de uma frase mal escrita ou da ordem de Filipe Segundo ao arquitecto do Escorial – Façamos qualquer coisa que o mundo diga de nós que fomos loucos" - António Lobo Antunes
Como se ultrapassa a adversidade? Onde vamos buscar as forças para persistir quando todas as fibras do nosso corpo nos ordenam que é altura de desistir? Dizem que a fadiga é uma ficção que o cérebro engendra para ordenar ao corpo que é altura de parar, antes que algo irreparável o pare definitivamente. Talvez a realidade seja toda ela uma ficção criada pela nossa mente. Ou então é um enredo que o nosso cérebro constroi, dinâmica e interactivamente, para se conseguir orientar num mundo complexo e desprovido de um propósito independente da nossa vontade. Há investigadores que dizem que temos um cérebro “social” composto por módulos, com diferentes funções. A comandar esses módulos (ou ser comandado por eles) poderá, ou não, existir uma identidade denominada o “eu”, o “self”, a “consciência”, ou o que lhe queiramos chamar. A razão porque construimos percursos e prosseguimos objectivos é porque necessitamos de um ou vários propósitos que nos orientem nesta vida. Como não so
Imagem do Blogue de Maria Tadeu Esta rúbrica é dirigida aos Trail Runners que se estão a iniciar na modalidade e que ainda não têm prática de uma vertente muito interessante das corridas em trilhos: o "solo duro". O que é o solo duro? "Solo duro" é a expressão que indica o pavilhão gimnodesportivo, ou outras instalações semelhantes, disponibilizado pela organização, para que os atletas possam ter um local onde pernoitar antes e depois de uma prova. É solo duro, porque não inclui camas. Na melhor das hipóteses conseguem-se umas esteiras usadas na prática da ginástica e que se encontram disponíveis no pavilhão. Quanto a mim, trata-se de uma excelente opção para pernoitar, por várias razões. A saber: é gratuito; conveniente; normalmente encontra-se perto da linha de partida; e propicia o convívio. Claro que tem inconvenientes, sobretudo para os mais sensíveis. São locais agitados e barulhentos: há malta (como eu, por exemplo) que, ao ressonar, debit
Primeiros 100 km da prova, até a bateria do Garmin morrer... Lector in fabula Sempre preferi os loucos… Abro os olhos sobressaltado! Onde estou eu? Como vim aqui parar? Olho lentamente em redor… aos poucos as imagens vão-se fixando e a memória vai retornando... Estou na Ilha da Madeira, a subir vagarosamente para o Pico Ruivo. Devo ter cerrado os olhos momentaneamente e passado instantaneamente pelas brasas. Que horas são? Olho para o Garmin. São 11h40. Ainda só estou a subir há 20 minutos. Tocados pelo fogo. O truque é nunca parar. Custe o que custar, continuar sempre a colocar um pé adiante do outro. Subir degrau a degrau. É como andar de bicicleta. Se pararmos caímos. “Os que levam a vida inteira como alcoólicos e neuróticos são mais interessantes, as pessoas falam deles e contam as suas anedotas, enquanto os tranquilos só fazem o seu trabalho.” - Joyce Carol Oates Esta subida, este quilómetro vertical, está-me a custar muito mais do
Os 15 magníficos João Faustino, Marisa Marques, António Costa, Francisco Martins, Paulo "El comandante" Pires, Ana Paula Guedes, Miguel Serradas Duarte, Marian Leite Braga, João Mota, Rui Pedro Julião, Rui Pires, Luis Afonso, Nuno Faria, José Santos, Luis Matos Ferreira (na foto falta o Flávio Francisco). "The chain of the High Atlas is the highest of Morocco: it culminates at 4167 m with the Toubkal Jebel and stands as a long of more than 700 km border separating the oceanic and subtropical climate, warm and rather humid, semi climate -désertique and continental. Today, the High Atlas itself as a land of Berber culture and traditions remain alive. Far contemporary Road, one discovers the azibs (dry stone shepherd huts) and small houses douars that seem totally out of time, thrown here and there in the vast desert of altitude. Here, hospitality is a founding principle. The Berbers welcome you to their improbable villages, built on the mountain side or
Grande Luís...
ResponderEliminarE é um belo post neste teu interessante blog tanto na vertente lúdica como do ser que és.
És uma espécie de Arquimedes, filósofo, engenheiro.... Mestre inventor e utilizador da alavanca que multiplica a força para levantar algo.
Fico muito contente de te sentir a voltar a ter ideias de voltar aos montes.
Independentemente de teres ficado mais tempo do que pudesses prever sem um ires a jogo, bem vistas as coisas, acho que para ti é só mais um momento.
Tal como na Montanha existe a tal multiplicidade de fatores que é preciso gerir, na outra vida existe ultiplicidade de fatores que é preciso gerir para ir em pleno para a Montanha.
E para além disso foram tempos fáceis e com condições para treinar como deve ser.
E se te conheço um pouco, vamos ver-te aí a palminhar as "pequenas" ultras para ires ganhando ganhando condição até a próxima mega aventura.
Também gostava deizer que estes tipo de post nos teu blog, "públicos", que na sua essência são escritos para ti próprio e para a tua relação com o oblívio,
mas que podem ajudar bastante a entender o que é o desporto do Trail. Principalmente o Trail nestas distâncias absurdas.
E tu sabes que foi por te ler muitas vezes que me atrevi um dia a cumprir uma aventura com essa distância das 100 milhas.
Foi uma aventura cheia de dificuldades e foi do cralhes. Agradeço-te por isso.
Carrega!!
Run abraço
Rui
Meu bom amigo Rui,
EliminarMuito obrigado pelas tuas palavras sinceras e poéticas.
Tens sido o meu grande companheiro de treinos e forte fonte de motivação, já há alguns tempos, sobretudo na fase difícil que têm sido os anos mais recentes. Nestas alturas sobressaem os bons amigos.
Fico feliz em saber que te posso ter dado alguma vontade de cumprir uma prova de 100 milhas, mas o sucesso é inteiramente teu. Sobretudo pela forma determinada como encaraste esse objetivo e não te deixaste esmorecer pelas duas primeiras tentativas interrompidas por forças alheias à tua vontade. Os verdadeiros campeões medem-se pela forma como não deixam que os obstáculos de interponham entre eles e os seus sonhos.
E também pelo planeamento rigoroso e pelo estudo e vontade de saber sempre mais. És um exemplo também nisso.
E sobretudo pela tua dimensão enquanto pessoa, sempre pronto a ajudar o próximo e a contribuir para que as pessoas tenham boas experiências e um meio onde se possam desenvolver e ir mais longe.
Forte abraço meu amigo!
As saudades que tinha de ler e reler as tuas crónicas! Obrigado pelo que tens dado e por continuares a ser uma referência para mim.
ResponderEliminarAcredito que durante muitos anos vais ser tu a escolher o teu destino.
Forte abraço do Quénia.
Grande Jorge! Muito obrigado pelas tuas palavras, mas sobretudo pela tua companhia e amizade. Temos estado juntos em várias destas aventuras e ainda estaremos em muitas mais por muitos anos. Força para ti nessas aventuras do desporto e da vida. Forte abraço amigo!
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