III Ehunmilak 2012 - Preparação - 2º Mesociclo
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Desde o meu último relato da preparação para os 168km, com 11000m D+ (nunca é de mais relembrar...), do Ehunmilak (“Cem milhas”), completou-se mais um mesociclo de treino.
A minha preparação para este enorme desafio consiste num único macrociclo, em que o treino é pensado a longo prazo, com esse objectivo em mente. Pelo caminho vão-se incluindo algumas provas intermédias, que servem não só como preparação, mas também como objectivos per se.
O meu treinador, o Eduardo Santos, do Centro de Treino da Associação “O Mundo da Corrida”, vai definindo e adaptando regularmente o meu treino de mesociclo (conjunto de 4 microciclos de 1 semana cada), que vou cumprindo o melhor que posso e consigo. Faço sobretudo treino intervalado, reforço muscular e treino longo, intercalados com treinos mais leves de recuperação.
No mesociclo mais recente, completei 387 kms, e, sobretudo, escalei 8636 m de desnível positivo (D+), que me parece mais significativo ainda do que própriamente a distância, a fim de cumprir com sucesso o ambicioso objectivo a que me propus (em que vou ter que escalar 11000 m no tempo limite de 48 h). O campeoníssimo (e fenómeno do Trail) Kilian Jornet, define os seus treinos pelo D+ e não pela distância.
Competi ainda no II Ultra-Trail de Sesimbra (50 kms, 1300 m D+), que completei em 5h12.
No sábado passado voltei a fazer um treino longo na Serra, que me levou a completar 44 kms, com 1869 m D+, em 6h10.
Para o próximo mesociclo tenho previstas duas provas de Ultra Distância, o Trail do “Oh Meu Deus”, na Serra da Estrela (50 km) e o UTSM (100km) em Portalegre.
A dificuldade maior consiste, sem dúvida, em manter a frescura, tanto física como mental, necessária para cumprir um plano de treinos exigente. A recuperação entre treinos e provas não é fácil e a falta de tempo induz a tendência para cortar nos exercícios de alongamento e flexibilidade, essenciais para evitar lesões. Treina-se acompanhado crónicamente pela dor: uma contratura mal curada, joelhos massacrados, dores na região lombar, pubálgia, pés doridos, etc...
Boa parte das vezes é necessário treinar a solo, e muitas horas seguidas nos trilhos da Serra exigem um espírito contemplativo e alguma dose de introspecção. É preciso treinar em quaisquer condições meteorológicas, suportando o desconforto da chuva, do frio ou do calor.
Enfim, a constância e persistência são condições necessárias, e se acompanhadas por algum estudo, discernimento e muito trabalho, podem-se transformar também em condições suficientes para alcançar objectivos ambiciosos.
Recentemente li um livro muito interessante, dedicado ao tema da memória: "Moonwalking with Einstein - The Art and Science of Remembering Everything".
Nele, o autor, Joshua Foer, retrata a forma como o desenvolvimento e massificação de vários tipos de suporte de informação, que tem progressivamente facilitado o seu acesso, levou a que a nossa memória colectiva se tenha tornado cada vez mais externalizada e, enquanto individuos, tenhamos passado a recorrer muito menos à nossa memória interna.
No entanto, prossegue o autor, alguns individuos, algo excêntricos, persistem em manter viva uma tradição, que remota aos antigos gregos, que involve técnicas milenares, bastante criativas, para memorização de extensas quantidades de informação. Joshua propõe-se ele próprio aprender essas técnicas, no espaço de um ano, ao fim do qual competiria no Campeonato Norte-Americano de Memória.
No início a tarefa parece abismal, pois as provas do campeonato incluem feitos de memorização aparentemente apenas acessíveis a individuos dotados de talentos (ou desordens) inatos excepcionais, tais como memorizar a ordem de um baralho de cartas num minuto, ou mil digitos aleatórios numa hora.
A conclusão surpreendente do livro, é que graças a uma dedicação excepcional, muito trabalho e uma confiança inabalável, Joshua consegue, ao fim desse curto período de tempo de intensa preparação, vencer o Campeonato!
Retrospectivamente, o autor reflecte que a maioria das pessoas, nas tarefas a que se propõem, contententa-se em colocar apenas o esforço necessário para alcançar o que ele chama o “OK Plateau.” Esse é um nível de competência apenas suficientemente bom para conseguirmos cumprir com os requisitos exigidos pela sociedade ou satisfazer as nossas necessidades. Uma vez atingido este nível, passamos a funcionar em modo automático, de menor esforço, e não evoluimos mais além.
A fim de se ultrapassar esse plateau e alcançar feitos verdadeiramente excepcionais é necessário um exigente e continuado esforço, consciente, metódico e concentrado. A lição principal, que o autor extraiu da sua experiência, é que tal é alcançavel por individuos em tudo o resto perfeitamente vulgares, apenas excepcionais na tenacidade com que estão comprometidos em levar a cabo essa jornada de descoberta.
to be continued...
Desde o meu último relato da preparação para os 168km, com 11000m D+ (nunca é de mais relembrar...), do Ehunmilak (“Cem milhas”), completou-se mais um mesociclo de treino.
A minha preparação para este enorme desafio consiste num único macrociclo, em que o treino é pensado a longo prazo, com esse objectivo em mente. Pelo caminho vão-se incluindo algumas provas intermédias, que servem não só como preparação, mas também como objectivos per se.
O meu treinador, o Eduardo Santos, do Centro de Treino da Associação “O Mundo da Corrida”, vai definindo e adaptando regularmente o meu treino de mesociclo (conjunto de 4 microciclos de 1 semana cada), que vou cumprindo o melhor que posso e consigo. Faço sobretudo treino intervalado, reforço muscular e treino longo, intercalados com treinos mais leves de recuperação.
No mesociclo mais recente, completei 387 kms, e, sobretudo, escalei 8636 m de desnível positivo (D+), que me parece mais significativo ainda do que própriamente a distância, a fim de cumprir com sucesso o ambicioso objectivo a que me propus (em que vou ter que escalar 11000 m no tempo limite de 48 h). O campeoníssimo (e fenómeno do Trail) Kilian Jornet, define os seus treinos pelo D+ e não pela distância.
Competi ainda no II Ultra-Trail de Sesimbra (50 kms, 1300 m D+), que completei em 5h12.
No sábado passado voltei a fazer um treino longo na Serra, que me levou a completar 44 kms, com 1869 m D+, em 6h10.
Para o próximo mesociclo tenho previstas duas provas de Ultra Distância, o Trail do “Oh Meu Deus”, na Serra da Estrela (50 km) e o UTSM (100km) em Portalegre.
A dificuldade maior consiste, sem dúvida, em manter a frescura, tanto física como mental, necessária para cumprir um plano de treinos exigente. A recuperação entre treinos e provas não é fácil e a falta de tempo induz a tendência para cortar nos exercícios de alongamento e flexibilidade, essenciais para evitar lesões. Treina-se acompanhado crónicamente pela dor: uma contratura mal curada, joelhos massacrados, dores na região lombar, pubálgia, pés doridos, etc...
Boa parte das vezes é necessário treinar a solo, e muitas horas seguidas nos trilhos da Serra exigem um espírito contemplativo e alguma dose de introspecção. É preciso treinar em quaisquer condições meteorológicas, suportando o desconforto da chuva, do frio ou do calor.
Enfim, a constância e persistência são condições necessárias, e se acompanhadas por algum estudo, discernimento e muito trabalho, podem-se transformar também em condições suficientes para alcançar objectivos ambiciosos.
Recentemente li um livro muito interessante, dedicado ao tema da memória: "Moonwalking with Einstein - The Art and Science of Remembering Everything".
Nele, o autor, Joshua Foer, retrata a forma como o desenvolvimento e massificação de vários tipos de suporte de informação, que tem progressivamente facilitado o seu acesso, levou a que a nossa memória colectiva se tenha tornado cada vez mais externalizada e, enquanto individuos, tenhamos passado a recorrer muito menos à nossa memória interna.
No entanto, prossegue o autor, alguns individuos, algo excêntricos, persistem em manter viva uma tradição, que remota aos antigos gregos, que involve técnicas milenares, bastante criativas, para memorização de extensas quantidades de informação. Joshua propõe-se ele próprio aprender essas técnicas, no espaço de um ano, ao fim do qual competiria no Campeonato Norte-Americano de Memória.
No início a tarefa parece abismal, pois as provas do campeonato incluem feitos de memorização aparentemente apenas acessíveis a individuos dotados de talentos (ou desordens) inatos excepcionais, tais como memorizar a ordem de um baralho de cartas num minuto, ou mil digitos aleatórios numa hora.
A conclusão surpreendente do livro, é que graças a uma dedicação excepcional, muito trabalho e uma confiança inabalável, Joshua consegue, ao fim desse curto período de tempo de intensa preparação, vencer o Campeonato!
Retrospectivamente, o autor reflecte que a maioria das pessoas, nas tarefas a que se propõem, contententa-se em colocar apenas o esforço necessário para alcançar o que ele chama o “OK Plateau.” Esse é um nível de competência apenas suficientemente bom para conseguirmos cumprir com os requisitos exigidos pela sociedade ou satisfazer as nossas necessidades. Uma vez atingido este nível, passamos a funcionar em modo automático, de menor esforço, e não evoluimos mais além.
A fim de se ultrapassar esse plateau e alcançar feitos verdadeiramente excepcionais é necessário um exigente e continuado esforço, consciente, metódico e concentrado. A lição principal, que o autor extraiu da sua experiência, é que tal é alcançavel por individuos em tudo o resto perfeitamente vulgares, apenas excepcionais na tenacidade com que estão comprometidos em levar a cabo essa jornada de descoberta.
to be continued...
Também li esse livro e gostei muito. Comprei-o porque o meu pai, que tem 85 anos está cada vez com mais problemas de memória e queria ver se o livro me dava umas pistas. Descobri, como tu, um livro sobre os 99% de suor e 1% de inspiração.
ResponderEliminarÉ como a tua preparação: são realmente 99% de suor :))
Vai contanto, que eu vou sempre aprendendo com os teus relatos, e criando metas muito mais além dos patamares do "ok plateau".
Obrigada pela partilha,
Run Abraços,
Margarida
Luís vais seguramente completar o teu 1º 100 milhas com distinção. Estás a fazer a preparação certa e sobretudo continuas em grande forma! abraço Zé Carlos
ResponderEliminarE um dia diremos aos nossos netos: "eu corri com o Luís Matos Ferreira..."
ResponderEliminarparabéns, nestas épocas que desistência colectiva temos de persistir individualmente
grande abraço, grande exemplo
Jorge Cancela