Andorra Ultra Trail VallNord - Ronda dels Cims 2019 - Estatísticas

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"A estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem."





Para mim é sempre muito importante fazer uma análise detalhada do que sucedeu numa prova, com o intuíto de tirar ensinamento a usar na próxima.



A seguinte análise é baseada no quadro de classificações constante no site da prova:

Classificação




A seguir um gráfico com o tempo total de prova, dos 1º, 2º e 3º quartis da população de 210 finishers.

Grosso modo estes conceitos de estatística descritiva podem ser explicados da seguinte forma:

Se imaginarmos que eram 100 corredores, então o 1º quartil representa o tempo que 25º classificado demoraria, o 2º quartil (ou mediana) o tempo que o 50º, e o 3º quartil o tempo do 75º.

O 2º Quartil também é denominado de Mediana. É o valor atrás do qual ficaram 50% dos atletas. É um conceito diferente de média aritmética e mais útil para analisar este tipo de prestações.

Num total de 210 finishers, os quartis são basicamente os tempos dos seguintes classificados:

1ºQ - 53
2ºQ - 105
3ºQ - 157
4ºQ - 210

 Acrescentei uma linha vermelha com o meu tempo, e outras duas linhas, uma com o tempo do primeiro e outra com o tempo do último.





O que consigo detetar neste gráfico é que a minha prestação foi sempre muito próxima do valor da mediana, até à 2ª base de vida em Pas de la Casa aos 130 Km, com 3/4 da prova feitos.

A partir daí, e nos dois abastecimentos seguintes caí para o valor do 1º Quartil.

Primeiro no troço noturno de Pas de la Casa a Inclés. E depois por ter ficado a dormir em Inclés.

Depois até ao fim fui sempre no ritmo do 3ºQ.



Neste gráfico aqui, vê-se mais claramente do que estou a falar:







Cheguei a ter quatro horas de avanço sobre o ritmo constante de 3 km/h. Depois esssa vantagem esboroou-se, primeiro na subida noturna para Inclés, e depois quando dormi no abastecimento de Inclés.




Próximo gráfico:

Calculei a velocidade em cada etapa, para os 3 quartis, e para a minha prestação.





Vê-se no gráfico que perdi para a mediana sobretudo em 3 troços: na descida de 3 km do Pic de Comapedrosa para o Refúgio (2 m/s face a cerca de 3 m/s).

Na subida noturna para Inclés e novamente entre Inclés e Coms de Jan por ter ficado a dormir no abastecimento.

Vejo também que a malta deu o litro no 1º troço até Sorteny e depois novamente de Sorteny até à meta.




O gráfico seguinte é semelhante mas com barras para o 1º classificado só para descer à terra e ver como é que a elite corre. Digo-vos já: não tem nada a ver.






O gráfico seguinte mostra a velocidade acumulada desde o início até cada abastecimento e ilustra aquilo que eu já tinha afirmado num post anterior: a velocidade vai decaindo ao longo da prova. A curva dá a ideia de que o decaimento tem forma logaritmica. É o que as curvas dos vários quartis mostram, incluindo a minha própria curva.








Até mesmo a elite sofre do mesmo fenómeno:






Outro gráfico interessante é o das desistências:





Vê-se que quem chega aos 105 km em Claror, praticamente tem a prova feita. As desistências dão-se esmagadoramente antes desse ponto.





E aqui estão as minhas estatísticas pessoais:

Nota: o Garmin morreu uns kms antes de Sorteny, e só o consegui voltar a carregar já alguns kms depois do abastecimento. Daí aquela linha reta que se vê na curva. Seja como for, o Garmin marcou mais kms do que os 170 realmente percorridos, julgo que sobretudo porque quando estou parado dentro de um abastecimento o GPS está constantemente a tentar apanhar o satélite e vai marcando pontos em redor de mim, o que aumenta a distância. Já quanto ao desnível, o Garmin marca menos do que o valor oficial, não faço ideia qual a razão. Faz sempre isso em todas as provas.













Nota-se que o ritmo cardíaco foi diminuindo, mercê da diminuição de velocidade.





Também se consegue ver que as temperaturas oscilaram entre uma mínima de 14ºC na segunda noite, e de 35ºC no terceiro dia.

Nos dois primeiros dias nunca desceram abaixo dos 17ºC nem subiram acima dos 32ºC. Ou seja, algo quente durante o dia, mas muito amena durante a noite. Consegui correr na maior parte do tempo, apenas de mangas curtas.

Nunca choveu.








Quanto ao desnível positivo e negativo, a evolução foi a seguinte:




Nota: os valores do desnível estão um pouco aquém do valor real, e os valores do tempo estão em excesso do valor real. Mas dá para verificar a tendência.

O valor total de D+ que obtive foi de 12.337 m, em lugar dos 13.500 m da prova.

Seja como for, dá para ver que em La Margineda, aos 73 km (43% da distância) já tinha quase metade do D+ (49%).

Em Coma Bella, aos 87 Km, com metade da distância, já tinha 57% do desnível.

E em Illa, com 2/3 (70%) da distância percorrida, já tinha quase 10.000 mD+, ou seja cerca de 80% do desnível positivo.

É mais fácil de ver com um gráfico de percentagens:




Seja como for, a minha conclusão é que Ronda é uma prova muito equilibrada, e como tal tem que ser abordada de igual forma: equilibradamente.



E assim as impressões que se tinham cristalizado ao decorrer do tempo interior durante a prova, são agora corrigidas pelos factos interpretados.



O tempo é a memória e a memória é o tempo. Não é só o presente que se altera em direção ao futuro: o passado também sofre mutações à medida que o tempo se desenrola.

World Without Time





Para terminar:

Um treino no local mais bonito do universo: A nossa Serra da Estrela.

Treino em Setembro de 2018, quando recomecei a treinar na Serra. Estava mais gordo e mais ofegante, mas muito feliz.












Comentários

  1. Muito interessante. A matemática e a estatística fazem-nos perceber a realidade e possibilitam planear o futuro. Obrigado Luís, com um abraço

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    1. Acho que as letras e os números complementam-se e permitem-nos compreender o mundo, na medida do possível. Obrigado João! Um abraço!

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